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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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sário lembrar que a evocatio romana era diferente daquela praticada<br />

com os demais povos. Para evitar que Roma fosse objeto<br />

do mesmo <strong>ritual</strong>, os romanos ocultavam o nome do deus<br />

protetor e a designação latina da cidade, evocando, desse<br />

modo, a lógica do sedutor: não ser um sujeito, e sim um<br />

puro espaço vazio ocupado pelos deuses e pelos nomes dos<br />

seduzidos.<br />

Prossegue com Baltasar Gracián, que faz do sedutor<br />

uma figura sem identidade para poder estar aberta à ocasião,<br />

às determinações do seduzido, que é quem lhe atribui qualidades.<br />

Gracián confere uma dimensão política à sedução,<br />

transformando-a em condição essencial da arte de governar,<br />

por ser, como escreve Perniola “auto-supressão da identidade<br />

do poder e repetição simulada das identidades dos seduzidos.<br />

A lógica da sedução é solidária com o processo de desrealização<br />

e culturalização radical que investe o mundo barroco”.<br />

Outra imagem barroca da sedução é localizada no<br />

convidado de pedra do drama de Tirso de Molina, que<br />

consegue inverter a relação entre sedutor e seduzido. Don<br />

Juan é seduzido por um simulacro, que determina sua ruína,<br />

uma vez que a lógica da sedução se impõe acima das subjetividades<br />

individuais.<br />

Detém-se, finalmente, no momento atual, que denomina<br />

sociedade dos simulacros, na qual se restabelece a relação<br />

entre poder e sedução. O poder político, que deixou de ser ideológico,<br />

é comparado com um holograma, cuja sedução deriva<br />

do fato de ser vazio, de não justificar nenhuma ilusão ou<br />

aparência e de ser, assim mesmo, passível de experiência e de<br />

apreciação por aquilo que mostra. A única alternativa que<br />

Perniola detecta para a sociedade hodierna não escapa da lógica<br />

do holograma: só resta escolher entre considerá-lo um “ob-

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