12.04.2013 Views

Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

damento existencial da economia e da ciência. Mas o âmbito<br />

jesuítico-barroco da utilidade é amplo o suficiente para abranger<br />

também e principalmente o seu contrário, o inútil, e para<br />

dissolver, portanto, a sua identidade. Na “ajuda às almas”, que<br />

constitui o objetivo precípuo sobre o qual foi fundada a Companhia<br />

de Jesus, o aspecto material e o aspecto espi<strong>ritual</strong> estão<br />

unificados e são indistinguíveis. O mesmo acontece com as<br />

outras determinações heideggerianas do mundo ambiente<br />

(Umwelt): o signo (Zeichen) e a satisfação (Bewandtnis). A estrutura<br />

comunicativa barroca dissolve todo referente porque ocorre<br />

entre um emissor que se vale do código da ostentação e um<br />

receptor cujo código é o da complacência. 48 Enfim, o princípio<br />

repetido ininterruptamente por Loyola e Gracián, de ser feliz<br />

em qualquer estado ou condição, lança as bases do erotismo total<br />

que Sade irá expor detalhadamente. Caráter utensiliar, signo e<br />

satisfação perdem completamente o caráter inautêntico e criptoeconômico<br />

que Heidegger lhes atribui. O “mundo” jesuíticobarroco<br />

não abre a perspectiva da produção, mas a do simulacro.<br />

Disso deriva justamente a sua profunda afinidade com a<br />

situação contemporânea, caracterizada, segundo Baudrillard,<br />

pelo fim da economia política clássica e pela sua reprodução<br />

hiper-realista como modelo de simulação: “Todos os signos agora<br />

trocam-se entre si, sem jamais trocar-se com o real, e eles não<br />

se trocam bem, eles não se trocam perfeitamente entre si a não<br />

ser com a condição de não trocar-se mais com o real”. 49<br />

Notas<br />

1. M. Heidegger, Sein und Zeit. Halle, Niemeyer, parágrafo 48.<br />

2. Heidegger, op. cit., parágrafos 20 e 21.<br />

3. J. Baudrillard, L’échange symbolique et la mort. Paris, Gallimard, 1976, p. 225, nota 1.<br />

4. Heidegger, op. cit., parágrafo 51.<br />

195

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!