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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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3 Lógos e eterno retorno<br />

Retomando a definição aristotélica da função do lógos<br />

como apofaínesthai (“mostrar-se”, “aparecer”), Heidegger, em<br />

Ser e tempo, 13 afirma que a função do discurso consiste em<br />

“deixar ver, mostrando” (aufweisende Sehenlassen), aquilo sobre<br />

o que se fala. Assim, ele rejeita o conceito metafísico de<br />

verdade como adequação entre aparência e realidade, como<br />

concordância entre o sensível e o inteligível, e revela a íntima<br />

conexão existente entre os conceitos de fenômeno e de lógos.<br />

O fenômeno originário da verdade consiste no ser-descobridor<br />

(entdeckend-sein), no deixar ver o ente no seu não-estaroculto.<br />

Diferentemente, portanto, da metafísica, que considera<br />

o aparecer o contrário da verdade, Heidegger define a própria<br />

verdade como um mostrar-se, como um não-ocultar-se,<br />

de acordo com a etimologia da palavra grega alétheia (alétheia,<br />

não permanecer oculto). Dessa forma, a aparência,<br />

reconduzida ao seu significado originário de fenômeno, resulta<br />

solenizada como verdade: toda descoberta, afirma<br />

Heidegger, é realizada “partindo do pôr a descoberto o aspecto<br />

(Schein)”. 14 O que não exclui, no entanto, que ela corra<br />

sempre o risco de mergulhar de novo na contrafação, na<br />

ocultação, no olvido. A verdade, por conseguinte, é comparável<br />

a um furto (Raub). Heidegger opera, assim, uma reforma<br />

do conceito de verdade mediante a qual esta pode apropriar-se<br />

até mesmo daquilo que a metafísica lhe havia oposto<br />

por definição. De fato, a distinção metafísica entre “mundo<br />

verdadeiro” e “mundo aparente” é suprimida em favor de uma<br />

refundação da verdade, que herda todo o páthos dos discursos<br />

que se apresentam como revelação da verdade, que a entendem<br />

como revelação. O fato de que essa manifestação seja<br />

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