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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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ui à consciência não deixa de ter afinidade com a vocatio*<br />

luterana; em ambos os casos, primeiramente se é chamado<br />

a uma condição comum a todos, que em Lutero constitui a<br />

premissa do sacerdócio universal e, em Heidegger, implica<br />

a referência ao ser-aí. Não se trata, de modo algum, de estabelecer<br />

uma relação íntima consigo mesmo. Em Lutero, a<br />

profissão (Beruf) à qual se é chamado independe de uma escolha<br />

individual. 24 Em Heidegger, o chamamento não é projetado,<br />

nem preparado, nem voluntariamente realizado por<br />

nós mesmos.<br />

É, enfim, na culpabilidade essencial da existência que o<br />

ser-para-a-morte heideggeriano encontra o seu antecedente<br />

mais profundo em Lutero. Essa culpabilidade é completamente<br />

independente da referência a um dever moral ou a uma lei:<br />

o ser-aí é culpado pelo simples fato de existir. A justiça de<br />

Lutero não é retributiva, mas “passiva”. Ela não consiste em<br />

dar segundo os méritos e as culpas, e sim em atribuir aquilo<br />

que não se tem direito algum de pedir, identificando-se, portanto,<br />

com a graça. Conseqüentemente, o princípio de toda<br />

justiça é, para Lutero, a acusação de si próprio, a culpabilidade<br />

radical do homem ou, como diz Heidegger, o ser fundamento<br />

nulo de uma nulidade. Embora Heidegger se preocupe<br />

em diferençar o ser-culpado do ser-aí do conceito teológico<br />

de pecado, 25 a concepção luterana de pecado é tão independente<br />

de uma culpabilidade moral ou legal que constitui,<br />

quando menos, a premissa ôntica e existencial da consideração<br />

ontológico-existencial de Heidegger.<br />

No âmbito do catolicismo, pode-se encontrar um modo<br />

de ser próximo ao ser-para-a-morte no jansenismo, que é afim<br />

* Chamado. (N. do T.)<br />

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