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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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dia” (I, 501-2). O mesmo conselho é dado às mulheres: “Olha<br />

quem te olha; tenha quem te sorri o teu sorriso; se te faz um<br />

sinal, devolve-lhe o sinal” (III, 513-4). Se o amor é pela sua<br />

natureza algo de intermédio, que vive de pequenas mutações<br />

e de imperceptíveis deslocamentos, de trânsitos, nem por isso<br />

reclama uma conduta indecisa ou confusa. Ao contrário,<br />

Ovídio sublinha exatamente a necessidade de agir com a máxima<br />

energia, uma vez que se tenha decidido: “Aut numquam<br />

temptes aut perfice” ( I, 389) (“Nem tentar ou ir a fundo!”).<br />

A provocação implica nunca deixar as coisas pela metade: “Se<br />

tu a tentaste deves possuí-la; deixa-a, se quiseres, mas depois<br />

de possuí-la” (I, 394). No tempo da provocação nada é de fato<br />

irreversível e estável; uma situação favorável pode repentinamente<br />

transformar-se em hostil e em todo caso não pode ser<br />

conservada indefinidamente: “Quem, tendo beijado, não usufruiu<br />

o resto, que perca também os beijos” (I, 667).<br />

6 O emprego amatório<br />

Manter a disponibilidade de uma conquista amorosa é,<br />

segundo Ovídio, tão difícil quanto alcançá-la. A segunda parte<br />

da Ars amatoria reclama capacidade não inferior à primeira<br />

— “Manter a conquista não vale menos do que tê-la alcançado:<br />

esta é às vezes um mero acaso; mantê-la é fruto de arte<br />

refinada” (II, 13-4). No emprego, no Bestellen, na manutenção<br />

culmina a arte, porque isso implica um presente completamente<br />

expandido, no interior do qual seja possível moverse.<br />

Não se trata tanto de acorrentar o amor, que parece “sempre<br />

errante pela terra” (II,18), nem de fazer dele a fundação<br />

(Grund) sobre a qual construir o edifício da própria vida, mas<br />

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