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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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é veste, pano, tecido. Os tendões assemelham-se às fibras da<br />

corda que segura o cadáver pela garganta ou ao laço que mantém<br />

unidos os pulsos. Até mesmo os ossos são representados<br />

como tecidos com a trama um tanto carcomida. Tudo agora<br />

está reduzido aos mínimos termos, feito em pedacinhos e desenhado<br />

de todos os lados, como os minúsculos ossos dos pés<br />

ilustrados na última lâmina — tudo permanece, até o fim, tecido,<br />

veste. Tudo se reduz a pó, mas o pó é ainda uma extrema<br />

cobertura, que tudo envolve.<br />

4 O nu eletrônico e a veste de carne<br />

No nosso século, a erótica do despir e a erótica do revestir<br />

se manifestam como espetáculos no strip-tease e no teatro<br />

erótico. Entretanto, só muito raramente eles conseguem<br />

alcançar um trânsito erótico efetivo. No strip-tease isso acontece<br />

quando a strip-teaser consegue, com o olhar, inverter uma<br />

relação de mão única. A partir do momento em que o espectador,<br />

por sua vez, é olhado com intensidade, é como se a<br />

nudez que se oferece funcionasse como um espelho: o espectador<br />

é convidado a defrontar-se com a sua nudez potencial.<br />

O peep show, que permite olhar sem ser visto, restabelece a perspectiva<br />

metafísica grega, os direitos da pura atividade cognitiva,<br />

e trunca toda possibilidade de trânsito.<br />

No teatro erótico, no qual se vêem atores copulando,<br />

o trânsito pode estabelecer-se só quando a barreira do tato é<br />

quebrada. A mulher que pede ao espectador que a deixe sentar<br />

no seu colo, que a segure pelos pulsos enquanto seu parceiro<br />

a possui, às vezes consegue fazer-se sentir como uma veste,<br />

um invólucro, uma coberta. Mas esse trânsito não conse-<br />

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