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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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quela compreensão que provém do chamado da consciência, o<br />

qual oferece à morte a possibilidade de apoderar-se da existência<br />

do ser-aí e destruir até a raiz toda ocultação evasiva de si.<br />

3 O simulacro da morte<br />

As Artes moriendi da primeira metade do século XVI<br />

acusam profundamente o influxo do humanismo e invertem,<br />

por essa razão, os termos do problema: quem quiser bem<br />

morrer deve aprender, em primeiro lugar, a bem viver. Por<br />

exemplo, o tratado De doctrina moriendi, de Josse Clichtove,<br />

publicado em 1520, afirma que não se deve temer a morte e<br />

que o homem honesto não precisa se preocupar com ela. As<br />

citações dos clássicos latinos estão lado a lado com as referências<br />

à Bíblia e aos pais da Igreja e, às vezes, as substituem.<br />

Também Erasmo defende, em seu De praeparatione ad mortem<br />

(1534), a tranqüilidade do justo diante da morte e procura<br />

conciliar o problema da salvação não só com a fama humanista<br />

do indivíduo, como também com a glória de Deus. 28<br />

Apenas os tratados jesuítas do século XVII irão abrir<br />

uma perspectiva aparentemente semelhante à desses tratados<br />

já citados, mas substancialmente oposta a uma visão humanista<br />

da vida e da morte. A obra De arte bene moriendi, de<br />

Roberto Bellarmino, testemunha à perfeição a nova postura,<br />

que, no seu conjunto, é irredutível tanto à digressão humanista<br />

da morte como ao ser-para-a-morte de Lutero. O primeiro<br />

preceito da arte bellarminiana de bem morrer é idêntico àquele<br />

humanista: quem desejar bem morrer, procure primeiramente<br />

bem viver, “porque, não sendo a morte senão o fim da vida,<br />

quem viver bem até o fim decerto morrerá bem; nem poderá<br />

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