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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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mista. O ferreiro Mamúrio Vetúrio, que forja onze escudos<br />

idênticos ao que havia caído do céu para salvar Roma de uma<br />

pestilência, é a própria encarnação da concepção romana de<br />

arte, alheia a qualquer distinção entre verdadeiro e falso, original<br />

e cópia. Nem criação original, nem imitação falsificadora<br />

do modelo divino, a operação de Mamúrio Vetúrio constitui<br />

para Perniola “uma repetição tão exata que anula o protótipo<br />

ao mesmo tempo que o preserva. A sua arte não se<br />

opõe ao que é dado pelos deuses, pela natureza, nem aceita<br />

um papel subordinado ou dependente, mas se põe ao lado<br />

de tudo o que é oferecido, multiplicando-o, deslocando-o, introduzindo-o<br />

num trânsito do mesmo para o mesmo. O triunfo<br />

da cópia é também extrema fidelidade ao signo enviado<br />

pelos deuses, porque nenhuma variação é admitida; mas esta<br />

fidelidade elimina a excepcionalidade prodigiosa do exemplar<br />

único, o torna normal, regular, cultural. O sucesso da atividade<br />

humana é por isso destituído de arrogância e de orgulho,<br />

é sem culpa, inocente”. 8<br />

Outro momento nuclear para a história do simulacro enquanto<br />

imagem sem protótipo é situado pelo autor no século<br />

XVI. Roberto Bellarmino e santo Inácio de Loyola são os principais<br />

interlocutores de Perniola, pois em ambos estão presentes<br />

as condições fundamentais para a existência do simulacro:<br />

“renúncia à afirmação metafísica da identidade das coisas e do<br />

mundo” e “reconhecimento de seu valor histórico”. 9<br />

Em <strong>Pensando</strong> o <strong>ritual</strong>: sexualidade, morte, mundo, Perniola<br />

propõe, embora rapidamente, outro momento para o simulacro,<br />

que corresponde à presença dos meios de comunicação de<br />

massa. Não se trata de um salto histórico, e sim de uma evidente<br />

explicitação da idéia neobarroca: o autor estabelece uma<br />

continuidade lógica entre a concepção seiscentista do simula-

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