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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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já tende a caracterizar a cotidianidade: todos os gestos e todos<br />

os comportamentos estão implicados numa circulação que<br />

os subtrai à identidade e à origem.<br />

No plano filosófico foi Wittgenstein quem examinou<br />

o significado de uma palavra no seu uso (Gebrauch). Como<br />

se deduz do seu livro Notas sobre o “Ramo de Ouro” de Frazer,<br />

ele atesta a autonomia dos comportamentos, dos gestos e dos<br />

rituais em relação às crenças, às explicações, aos mitos: a sua<br />

definição do homem como “animal cerimonial” liberta a noção<br />

de “uso” de toda dimensão acanhadamente funcional e<br />

utilitária. As ações repetidas e institucionalizadas não são, em<br />

absoluto, tão óbvias e conhecidas como parecem à primeira<br />

vista; mesmo nelas está presente um elemento insuprimível<br />

de estranheza e de inaturalidade, que é bem difícil de ser detectado.<br />

O outro filósofo para quem a noção de “uso”<br />

(Brauch) desempenha um papel importante é Heidegger. Para<br />

ele também o termo perde completamente toda referência à<br />

utilidade e está próximo à palavra latina fruitio, “fruição”. Fazer<br />

uso de uma coisa quer dizer, para Heidegger, não violentála<br />

e remetê-la à sua essência. O uso é um comportamento não<br />

direcionado para o alcance de um objetivo e, portanto, ancorado<br />

na experiência do presente; ele implica um abandono,<br />

um estado de serenidade, que não é, entretanto, renúncia<br />

quietista, e sim abertura àquilo que vem ao nosso encontro e<br />

à riqueza das ocasiões.<br />

“Trânsito”, “simulacro” e “rito sem mito” são conceitos<br />

cujas definições parecem, à primeira vista, enigmáticas,<br />

quando não paradoxais. O trânsito é um “movimento do mesmo<br />

para o mesmo”, onde, porém, “mesmo” não quer dizer<br />

“igual”, porque implica a introdução de uma diferença, de uma<br />

mudança, que é tanto mais profunda quanto menos cha-

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