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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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importante para a conceituação de prépon; com efeito, ela inaugura<br />

uma terceira via, diferente quer da indeterminação absoluta<br />

do kairós de Górgias e Isócrates, quer da abstração<br />

esquemática dos retores, destinada a determinar tantos convenientes<br />

quantas forem as categorias de pessoas detectadas<br />

concreta e historicamente a partir de seu éthe, de seus costumes.<br />

De fato, afirma Aristóteles: “A elocução expressará os<br />

caracteres se, em virtude daquilo que diz, demonstrar que cada<br />

grupo e cada disposição é acompanhado pela linguagem apropriada.<br />

Entendo por grupo ou pessoas da mesma idade, por<br />

exemplo, crianças, homens ou velhos; ou homens ou mulheres,<br />

ou ainda gregos ou tessálios; entendo por disposições as<br />

que conferem uma certa particularidade à vida. Portanto, o<br />

orador, se empregar também termos apropriados à disposição,<br />

expressará o caráter” (Ret., III, 1408, 25-30). Nessa interpretação<br />

aristotélica, a noção de prépon perde o significado<br />

originário de resplandecente efetivo, porque é retomada no<br />

âmbito de uma problemática da representação. Não é por acaso<br />

que essa noção encontra outra importante aplicação implícita<br />

na Poética, quando Aristóteles fala do caráter dos personagens<br />

da tragédia e de sua qualidade (Poét., 1454 a 16).<br />

Ela perde também a tensão estético-política que caracterizava<br />

as posições de Górgias e Isócrates. Para Aristóteles, o conveniente<br />

é, no fundo, algo acessório: “Se por acaso alguém<br />

encontrar os princípios primeiros, não mais haverá então<br />

dialética nem retórica, mas a própria ciência da qual os princípios<br />

foram emprestados” (Ret., 1358 a 25). O conveniente<br />

aristotélico poderá, assim, constituir o ponto de partida daquela<br />

estética do característico que, através de Teofrasto e<br />

Horácio, irá desenvolver-se, em oposição à estética classicista<br />

do cânon, até o Romantismo.<br />

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