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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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losofia e nas ciências humanas. Não é difícil, de resto, encontrar<br />

assonâncias entre a sua dinâmica teórica e alguns aspectos do pósestruturalismo<br />

contemporâneo. O nomadismo de Gilles Deleuze,<br />

a crítica do platonismo realizada por Jacques Derrida, a recusa<br />

dos mitos teorizada por Jean-François Lyotard constituem um<br />

cenário no qual se situam os seus caminhos especulativos. De<br />

resto, as três noções sobre as quais se articula o presente volume<br />

— trânsito, simulacro e rito sem mito — aparecem à primeira<br />

vista como os respectivos desenvolvimentos do pensamento nômade,<br />

pós-metafísico e pós-moderno dos autores acima citados.<br />

Entretanto, essa impressão de consonância se atenua assim que<br />

se contemplam as áreas culturais para as quais se volta a atenção<br />

do meu trabalho. Quais são essas áreas culturais? Não a Grécia<br />

antiga, que constitui o ponto de referência por excelência do pensamento<br />

filosófico contemporâneo, mas a Roma antiga, que, na<br />

literatura filosófica do século XX, é objeto de uma arraigada hostilidade;<br />

não a Reforma, que freqüentemente é vista como o berço<br />

da filosofia moderna, mas o Barroco, que só em tempos muito<br />

recentes foi merecedor de uma consideração filosófica; enfim, não<br />

a Europa mais genuína e secreta, mas a Europa mais híbrida e<br />

mais replicada, aquela Europa fora de si mesma, que já ocupa a<br />

maior parte do mundo e que, através dos enxertos mais ilegítimos<br />

e das combinações mais espúrias, é artífice de um cotidiano<br />

carente de bases nos mitos e nas tradições.<br />

O segundo elemento que confere uma especificidade particular<br />

à minha pesquisa é o interesse por aqueles “tempos fortes”<br />

da existência, em torno dos quais desde sempre giram os<br />

ritos: a sexualidade, a morte e o mundo. <strong>Sexualidade</strong> e morte<br />

constituem o “cerne” da experiência, porque são realidades opacas<br />

e impenetráveis, indiferentes e estranhas às intenções subjetivas<br />

e aos bons propósitos. Elas aparecem-nos como “coisas”

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