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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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gue manter-se; na cultura ocidental, de fato, a experiência tátil<br />

se anuncia como o prelúdio de uma posse que flui para o<br />

orgasmo como sua conclusão natural. 39 Assim, toda tensão<br />

desaparece e tudo se apazigua.<br />

Na realidade, a erótica dos nossos dias se encaminha para<br />

perspectivas muito mais novas e inquietantes do que o striptease<br />

ou o teatro erótico, isto é, o nu eletrônico realizado pela<br />

computação gráfica e a veste de carne dos ritos de possessão<br />

das religiões afro-americanas. A computação gráfica parece<br />

poder construir a imagem absolutamente realista de um corpo<br />

que na realidade não existe. À diferença da fotografia, que<br />

remete a um modelo real, ela prescinde por completo da existência<br />

de um original. O nu realizado eletronicamente não tem<br />

mais nada a ver com o corpo: ele levou ao extremo, de modo<br />

positivo, a pulsão de despir da Reforma e do Maneirismo. Em<br />

tese, nada impede a realização eletrônica de imagens perfeitamente<br />

realistas de nus de madeira, de ferro ou de vidro. Assim,<br />

despe-se o corpo até mesmo da aparência da carne. A subversão<br />

no mundo das formas vem acompanhada por uma produção<br />

potencialmente ilimitada de imagens.<br />

No pólo oposto, o fenômeno do transe, sobre o qual<br />

se fundam os ritos das religiões afro-americanas (candomblé,<br />

macumba, vodu, entre outras), oferece a imagem de corpos<br />

colocados à disposição, possuídos, “cavalgados” pela divindade.<br />

A pulsão de vestir da Contra-Reforma e do Barroco se<br />

radicaliza: nesses ritos não vemos estátuas, quadros ou desenhos,<br />

e sim corpos desapossados de sua subjetividade, animados<br />

por uma força que se manifesta mediante e através deles.<br />

A possessão é assim irredutível tanto à iconofilia como à<br />

iconoclastia. O corpo do possuído está presente em carne e<br />

osso, no entanto isso não conta por si, e sim pelo fato de dar<br />

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