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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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ligado à sorte da cidade e ao seu destino histórico, obra de<br />

enorme importância política, comparável ao templo de Júpiter<br />

capitolino e ao fogo perpétuo de Vesta. Era dever dos sálios<br />

sair carregando esses escudos sagrados por ocasião de uma cerimônia<br />

que ocorria no mês de março. Segundo Plutarco<br />

(Numa, 13), eles derivavam o seu nome “exatamente da dança<br />

que executavam, saltando, quando percorriam a cidade com<br />

os escudos sagrados”. Essa dança, que outras fontes definem<br />

com a palavra tripudium (Tito Lívio, I, 20, 4), é absolutamente<br />

análoga ao Troiae lusus descrito por Virgílio. Ao som da<br />

flauta — diz Dionísio de Halicarnasso (II, 70) —, eles executam<br />

ritmicamente o passo da dança guerreira, “ora todos<br />

juntos, ora com movimentos opostos, acompanhando suas<br />

danças com coros ancestrais”. Esses cantos terminavam com<br />

a invocação de Mamúrio Vetúrio, o primeiro artista da história<br />

de Roma, o autor dos escudos guardados e transportados<br />

pelos sálios.<br />

Mamúrio, portanto, é um ferreiro, e é conhecida a relação<br />

entre os ferreiros, os guerreiros e os mestres de iniciações.<br />

Segundo Eliade, há em diferentes níveis culturais uma<br />

ligação íntima entre a arte do ferreiro, a iniciação e a arte da<br />

canção, da dança e da poesia. 25 Essa tradição apresenta características<br />

marcadamente prometéicas, em que o ferreiro é<br />

o herói civilizador, o senhor do fogo, o guerreiro animado<br />

pelo calor divino. Mas o ferreiro dos romanos apresenta características<br />

completamente diferentes: está subordinado a<br />

Numa, não é um criador original, mas autor de uma ação<br />

dissimuladora que faz desaparecer o único escudo mandado<br />

pelos deuses, numa ostentação da multiplicidade, numa espécie<br />

de jogo que multiplica por doze o exemplar.<br />

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