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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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tiae* é o ponto de partida dessa erótica. Mas os deuses, para<br />

poderem ser venerados, devem calar.<br />

Parece que os romanos, no mesmo momento em que<br />

introduzem a veneração, tiram a palavra dos deuses, privamnos<br />

do mito, da narração de suas empresas. Georges Dumézil<br />

demonstrou que os deuses da religião romana são os mesmos<br />

do panteão indo-europeu, mas desmitificados, silenciosos. À<br />

diferença da religião etrusca, a romana não possui revelação:<br />

os livros sibilinos são uma simples compilação dos rituais de<br />

expiação do prodígio. A injunção favete linguis,** que convidava<br />

os participantes de uma cerimônia a favorecer com o<br />

silêncio o seu desenvolvimento, era, assim, dirigida aos próprios<br />

deuses.<br />

Veneratio é dizer sim ao mundo, e, portanto, abandono<br />

de toda atitude de ressentimento, de crítica preconcebida ou de<br />

negação sistemática do presente. É impossível ser charmoso se<br />

não se estiver em paz com o mundo, com o espírito do próprio<br />

tempo, com aquilo que está à volta. Venerar Vênus no<br />

mundo quer dizer estar disposto a reconhecer a variedade das<br />

suas manifestações e a desejá-las conforme a ocasião: castidade<br />

e orgia, matrimônio e prostituição, monogamia e poligamia,<br />

homossexualidade e heterossexualidade... não são realidades<br />

incompatíveis entre as quais é obrigatório escolher de<br />

uma vez por todas, mas situações a ser apreciadas no momento<br />

oportuno. Entretanto, a condição da sua apreciação continua<br />

sendo o seu silêncio, a sua discrição, a sua desmitificação<br />

— é charmoso não só quem está disposto, com a mesma in-<br />

* Termo da retórica: “conquista”, aquisição do favor, da benevolência (do juiz, do<br />

público). (N. do T.)<br />

** “Calai”; literalmente, “sede favoráveis por meio de vossas línguas”, isto é, “sede<br />

favoráveis naquilo de ruim que iríeis falar”. (N. do T.)<br />

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