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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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mulação da morte não é uma meta, mas um ponto de partida<br />

que nos introduz em uma operatividade efetiva mas não<br />

factual. 33 Ela se diferencia radicalmente da ação que cria méritos,<br />

objeto da crítica de Lutero, e que possui o caráter do<br />

factum brutum, isto é, daquela atividade que pretende transformar<br />

o mundo em sentido ético-metafísico. A efetividade<br />

jesuíta opera no plano da situação afetiva, seja porque faz com<br />

que o eu e os outros consolados em qualquer estado ou condição<br />

de vida sejam lançados do futuro, seja porque propõe<br />

todo “fato bruto” como um êxito ad majorem gloriam Dei.*<br />

Em seu sentido mais profundo, o otimismo jesuíta não<br />

é ético-metafísico, mas operativo-existencial: este é o melhor<br />

dos mundos possíveis, não porque do ponto de vista do valor<br />

seja de fato tal, e sim porque é possível agir de modo a tornar<br />

feliz e satisfeita qualquer tipo de existência. É por essa razão<br />

que a virtude jesuíta não é a esperança, que implica a transformação<br />

ético-metafísica do mundo (e está, portanto, ligada<br />

ao milenarismo escatológico), mas, quando muito, a confiança<br />

para encontrar consolo e saída, aconteça o que acontecer.<br />

Mesmo na hora da morte, mesmo na agonia. O <strong>Morte</strong>s illustres<br />

do padre Alegambe vem justamente demonstrar que quem já<br />

está morto, quem já conheceu a pequena morte da indiferença,<br />

pode viver qualquer agonia com consolo interior e êxito notório:<br />

34 mesmo a agonia é vida e história, é um último papel<br />

teatral que deve ser bem interpretado. Todavia, só pode ser<br />

bem interpretado por quem já estiver morto. “De fato”, escreve<br />

Bellarmino, “daqueles que tiveram a ventura de morrer<br />

pelo menos duas vezes ou mais [...] sabe-se que morrerão de<br />

bastante bom grado.” 35 Assim, pode escapar ao ridículo até<br />

* Para maior glória de Deus. (N. do T.)<br />

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