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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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quecem facilmente aquilo que ouviram, ou, ainda, como os<br />

habitantes da Tessália, são demasiado toscas, demasiado desprovidas<br />

de uma experiência sensata (amathésteroi*) para poder<br />

ser enganadas pela palavra, por esse poderoso soberano<br />

que, com “um corpo diminuto e de todo invisível, realiza<br />

obras profundamente divinas”, 11 será que num país desses ainda<br />

é possível identificar o resplandecente com o conveniente,<br />

o belo com o efetivo? No Sócrates xenofôntico, do uso do<br />

adjetivo prepódes** deriva-se uma acepção muito mais próxima<br />

de adequado e útil do que de belo: “Para os templos e<br />

para os altares, a posição mais adequada é um lugar aberto e<br />

completamente isolado” (Xen., Mem., III, 8). A beleza de um<br />

edifício é totalmente identificada, no Sócrates xenofôntico,<br />

com a sua utilidade, com o seu ser krésimos*** ou, melhor,<br />

armostós (de armózo, que quer dizer “adequar”). O Sócrates<br />

xenofôntico inaugura assim uma concepção funcionalista da<br />

beleza que já é inteiramente alheia à identidade originária entre<br />

beleza e efetividade implícita no tò prépon. O termo grego<br />

armostós corresponde ao latino aptus**** e é precisamente<br />

como adequação à finalidade que o decoro é entendido por<br />

toda uma tradição de pensamento que se desenvolve sobretudo<br />

na Idade Média.<br />

Ainda mais radical é a negação de prépon levada a cabo<br />

por Platão. É com ele que se inaugura a separação completa<br />

entre substância e aparência, entre parecer e ser. Contra<br />

Hípias, que defende a identidade entre belo e conveniente,<br />

* Ignorantes, não civilizados, grosseiros, que precisam aprender praticamente, por<br />

experiência. (N. do T.)<br />

** Conveniente. (N. do T.)<br />

*** Qualifica aquilo em que se busca e se encontra recurso. (N. do T.)<br />

**** Apto, adequado, conveniente. (N. do T.)<br />

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