12.04.2013 Views

Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Concordes na recusa da metafísica, do humanismo e da<br />

cotidianidade banal, Heidegger e Baudrillard propõem a seguir<br />

duas dimensões da morte opostas entre si, que se enraízam<br />

em contextos culturais antitéticos. O ser-para-a-morte<br />

heideggeriano pode ser considerado um repensar, em nível<br />

ontológico, da experiência ôntica da morte, típica da espi<strong>ritual</strong>idade<br />

luterana e jansenista. O próprio Heidegger remete<br />

explicitamente a Lutero e à tradição que sempre considerou<br />

a vida uma meditação sobre a morte. 14 Inversamente, o simulacro<br />

da morte de que Baudrillard fala remete não só às<br />

sociedades primitivas, como à tradição jesuítico-barroca que<br />

fez da experiência simulada da morte e da visão da morte a<br />

condição de ingresso no grande teatro da vida. Baudrillard<br />

evoca a respeito disso a solidez da sociedade barroca, “capaz<br />

de exumar os seus mortos, de conviver com eles a meio caminho<br />

entre a intimidade e o espetáculo, de suportar sem pavor<br />

nem curiosidade obscena [...] o teatro da morte”. 15 Trata-se<br />

de duas grandes tradições que devem ser examinadas<br />

detalhadamente.<br />

2 O ser-para-a-morte<br />

É no final da Idade Média que vamos encontrar a experiência<br />

ôntica que está na origem do ser-para-a-morte. O<br />

seu nascimento corresponde à passagem de uma concepção<br />

mais antiga, segundo a qual todos os mortos pertencentes à<br />

Igreja ressuscitariam juntos no final dos tempos, para a concepção<br />

do juízo particular imediatamente posterior à morte<br />

do indivíduo. 16 A nova concepção está amplamente documentada<br />

nas Artes moriendi da segunda metade do século XV, opús-<br />

170

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!