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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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assim que o próprio Ovídio será, mais tarde, autor de outro<br />

tratado, Remedia amoris, que se propõe a um objetivo aparentemente<br />

oposto ao de Ars amatoria — curar as feridas produzidas<br />

pelo insucesso amoroso. No entanto, esse segundo tratado<br />

também é muito significativamente colocado sob a proteção<br />

do Amor, que exorta Ovídio a concluir a obra. A identificação<br />

entre amor e carmen levada a cabo pelos poetas<br />

elegíacos que precederam Ovídio se enriquece assim com um<br />

terceiro termo, a ars, a técnica, que introduz uma duplicação,<br />

um deslocamento, os quais apenas asseguram uma vitória, independentemente<br />

do caso. A ars amatoria baseia-se na crença<br />

de que não existe uma mulher que lhe possa resistir (I, 270);<br />

é possível encontrar uma, entre tantas, que se negue, mas essa<br />

recusa é tutus, sem perigos, porque a ars traz o remédio.<br />

A Ars amatoria constitui também o coroamento da erótica<br />

do uso. “Usus opus movet hoc (I, 29) (“A ditar-me o poema<br />

está a experiência”). Para Ovídio, também a erótica tem<br />

um significado político-didático. De um lado, a relação entre<br />

o amante e a amada, entre o homem e a mulher, é comparado<br />

a uma militia (II, 223), os preceitos são arma (III, 1), o<br />

êxito é sempre semelhante a uma vitória militar. De outro<br />

lado, entretanto, está claro que o amor implica uma convergência<br />

de intentos pelo menos na recíproca de dar e receber<br />

prazer. As batalhas — diz Ovídio (II, 175-6) — travam-se com<br />

os partos,* não com a dileta amiga. Sob esse aspecto, a relação<br />

erótica revela-se, pois, afim com a relação política, entendida<br />

no sentido muito geral de relação intermédia entre guerra<br />

e paz, de capacidade de tratar com os próprios semelhantes,<br />

de usus rerum. Essa afinidade, portanto, não se baseia, como<br />

* Habitantes da Pártia. (N. do T.)<br />

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