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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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irredutíveis à vida do espírito e às suas aspirações ideais. Como<br />

pode a filosofia fazer frente a essas realidades? Na minha opinião,<br />

ela deveria pôr de lado não só toda espi<strong>ritual</strong>idade desencantada,<br />

como também todo naturalismo organicista. De fato,<br />

a sexualidade com que se depara não é aquela orgânica, articulada<br />

sobre a polaridade do masculino e do feminino, e sim aquela<br />

neutra e perversa, que prescinde de tal distinção. Nos ensaios<br />

contidos neste volume, sobre o venus, pensado como algo<br />

neutro, sobre eros, pensado como intermediário entre a paz e a<br />

guerra, e sobre o corpo, pensado como véu e veste, delineiamse<br />

exatamente as premissas de um “sex appeal do inorgânico”,<br />

do qual tratei recentemente de forma mais extensa e exaustiva.<br />

Com a morte, a filosofia se confrontou desde sempre.<br />

No entanto, o aspecto inquietante da hodierna experiência da<br />

morte não consiste apenas na angústia da finitude e nas tentativas<br />

de superá-la; no imaginário coletivo e na pesquisa científica,<br />

está cada vez mais presente a atenção dirigida aos estados<br />

intermediários entre a vida e a morte, que se configuram<br />

já como formas de vida artificial (os replicantes da ficção científica<br />

ou os fenômenos de A Life), já como estados limítrofes<br />

entre uma e outra (os vampiros da literatura e dos filmes de<br />

horror ou os pacientes terminais mantidos vivos pela tecnologia<br />

médica). De uma forma mais geral, assiste-se em muitos âmbitos<br />

a uma mistura entre o orgânico e o inorgânico, entre a<br />

corporeidade e as coisas, o que suscita perturbação e apreensão.<br />

Os ensaios, contidos neste volume, sobre o simulacro da<br />

morte, sobre o “reino intermediário” e sobre o eterno retorno<br />

do mesmo constituem uma introdução àquilo que antes<br />

chamei o “efeito egípcio”, para indicar exatamente o processo<br />

graças ao qual parece que as coisas adquirem faculdades humanas<br />

e, vice-versa, os homens são excluídos do sentir.<br />

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