UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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3. Procedimentos de Pesquisa<br />
O método utilizado nessa pesquisa é o do estudo de caso, com<br />
base em entrevistas semiestruturadas. Procurei, através do depoimento<br />
sobre a história de vida de cada sujeito, identificar – por meio de uma<br />
análise da performatividade, como conceituada por Butler (1993), e<br />
informado ainda pela teoria psicanalítica de Lacan – como se dá a<br />
constituição de um sujeito autor de agressão sexual. Este procedimento<br />
foi escolhido pela experiência de pesquisa que possuo em seu uso, assim<br />
como pela dinâmica que proporciona para que sejam capturadas as<br />
diferentes condições de vida dos sujeitos, sem que se perca de vista o<br />
norte teórico e epistemológico que a embasa. Também optei por tal<br />
recurso tendo em vista a abertura para o discurso do sujeito, que é<br />
importante pela análise atravessada pela psicanálise que pretendo<br />
realizar. Assim, novos rumos que a entrevista tenha tomado não são<br />
simplesmente descartados sem uma exploração apropriada, pois<br />
apontam um desejo de fala do sujeito que não deve ser ignorado.<br />
Há, então, a tentativa de delinear se existem similaridades nas<br />
histórias de vida dos sujeitos, se existem fatos correlatos, experiências<br />
constitutivas ou mesmo traumáticas, padrões familiares reproduzidos e<br />
repetidos – pontos que possam, de um ponto de vista da psicanálise,<br />
explicar a psicodinâmica e as relações entre história de vida do sujeito e<br />
suas ações. Visto que a multiplicidade de casos analisados é grande e<br />
que raramente são encontradas tais similaridades, a análise foi realizada<br />
via estudos de caso, com comentários quando existem similaridades ou<br />
diferenças significantes.<br />
Procurei entender as falas dos sujeitos não só como estando<br />
inseridas em um contexto histórico e cultural, como também balizadas<br />
pelos significantes encadeados, referindo, assim, um encontro entre a<br />
fala dos sujeitos e o discurso inconsciente que a todo tempo irrompe.<br />
Isso não significa apenas uma análise de atos falhos ou chistes, mas um<br />
encontro de maior expoente entre as técnicas da análise de discurso,<br />
teorias feministas e a Psicanálise.<br />
Este tipo de análise se dá sempre pelas concepções apresentadas<br />
pelos sujeitos em suas falas, suas concepções sobre os fatos que<br />
experienciaram, a maneira como os descrevem; e a compreensão destas<br />
sutilezas vai além do mero conteúdo linguístico, atravessando o plano<br />
cultural e o plano psíquico. O “sentido do enunciado depende de fatores<br />
contextuais, portanto, de fatores extralingüísticos, parafraseando Freud<br />
‘para além da língua’” (Melo, 2006, p. 63).