UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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problematizar o chamado sistema de sexo/gênero num discurso mais<br />
focalizado no entrelaçamento de gênero e classe. Porém, apenas muito<br />
raramente a teoria feminista articulou analiticamente raça, sexo, gênero<br />
e classe. Apesar de muitas autoras terem trabalhado fortemente nesses<br />
aspectos e de haver toda uma produção acerca destes temas e seus<br />
cruzamentos, ainda assim parece que a junção de todas estas categorias<br />
nunca foi realmente implantada. Como todas estas categorias não se<br />
mostram por um mesmo tipo de movimento analítico, é esperado que<br />
haja dificuldade em trabalhá-las de maneira conjunta. Vale ressaltar que<br />
Haraway (2004) aponta que o valor de uma categoria analítica não é<br />
necessariamente anulado pela consciência crítica de sua especificidade<br />
histórica e de seus limites culturais.<br />
Haraway (2004) afirma ainda que as pesquisadoras<br />
construcionistas sociais vieram a argumentar que a doutrina ideológica<br />
do rigor e do método científico e a epistemologia haviam sido criadas<br />
para sustentar uma prática científica alienante que nos distanciava de<br />
nossos próprios objetos. Deste ponto de vista, advém o argumento<br />
radical de que a ciência é eminentemente retórica, sendo nada mais que<br />
ação de atores sociais relevantes, e de que o conhecimento fabricado por<br />
estes é um caminho para uma forma desejada de poder objetivo. A<br />
própria autora já indica que “todo conhecimento é um nódulo<br />
condensado num campo de poder agonístico” (ibid., p. 11). A ciência se<br />
torna um texto contestável e um campo de poder; o conteúdo é a forma,<br />
e a forma na ciência é a retórica que cria artefatos sociais e fabrica o<br />
mundo através de objetos efetivos.<br />
O feminismo não escapa a essa crítica construcionista, ainda<br />
que tenha em seu favor o fato de, desde as propostas mais iniciais, ter<br />
optado por estudos que pensam em política, em traduções transculturais,<br />
no subjugado e parcialmente compreendido e na representação política.<br />
É uma parte da ciência que lida com sujeitos múltiplos, com uma visão<br />
crítica e um posicionamento politicamente também crítico em espaços<br />
sociais não homogêneos e marcados pelo gênero. O projeto apresentado<br />
por Haraway (2004) é um que acomode a objetividade corporificada, e<br />
ainda define: “objetividade feminista significa, simplesmente, saberes<br />
localizados” (Haraway, 1995, p. 18). A promessa de objetividade não<br />
seria a busca por uma posição de identidade com o objeto, mas uma<br />
conexão parcial. Não se pode estar em todas as posições ou inteiramente<br />
em uma posição privilegiada para a observação do objeto científico, e<br />
isso se aplica às categorias subjugadas (ou privilegiadas), como no caso<br />
dos estudos de gênero, raça, nação e classe.<br />
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