UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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seja, sob a forma de um representante (ibid., p. 139). A primeira<br />
experiência de satisfação cria um traço mnésico que doravante estará<br />
conectado diretamente à imagem/percepção do objeto que proporcionou<br />
a satisfação. E este traço mnésico constituirá a representação no<br />
processo pulsional (Dor, 1992, p. 139-140).<br />
O desejo nasce de um reinvestimento psíquico de um traço<br />
mnésico de satisfação ligado à identificação de uma excitação pulsional.<br />
A dimensão do desejo não tem outra realidade que não uma realidade<br />
psíquica. Ou seja, o desejo não tem objeto na realidade (Dor, 1992, p.<br />
140-141). O desejo, porém, é sempre desejo de desejo do Outro e,<br />
portanto, está também ligado à falta e à demanda (entendida aqui como<br />
sendo sempre demanda de amor). Portanto, o desejo só aparece em uma<br />
relação simbólica com o Outro e através do desejo do Outro (Dor, 1992,<br />
p. 144).<br />
A leitura lacaniana da pulsão define-a como não<br />
necessariamente satisfeita por seu objeto, mas fazendo parte de um<br />
circuito pulsional que tem como alvo o objeto de desejo, mas que acaba<br />
por circundá-lo, tendo como objetivo último a volta da pulsão para a<br />
borda erógena – esta pode ser qualquer parte erotizável do corpo, ou<br />
seja, qualquer parte do corpo (Dor, 1992, p. 142).<br />
Este objeto seria o objeto a, objeto causa de desejo e objeto do<br />
desejo, também entendido como objeto perdido em Freud. Exatamente<br />
por este conceito é que se inscreve no sujeito sempre a possibilidade da<br />
falta; é que se dá a inscrição de um vazio primevo no sujeito do<br />
inconsciente (Dor, 1992, p. 143).<br />
Assim, ocorre no Édipo a inscrição da criança no simbólico, na<br />
cultura propriamente dita, pela inserção da fala, junto à qual<br />
necessariamente vem a falta, através da demanda. A demanda também<br />
se relaciona com a necessidade, que seria o princípio desta cadeia,<br />
normalmente explicada como sendo referente à parte biológica do<br />
esquema de organização da criança, proporcionando a primeira<br />
experiência de prazer através da satisfação de seus primeiros impulsos<br />
(fome abatida com o seio ou outra fonte). Porém, não é apenas isso que<br />
ocorre aí: há um excesso que ultrapassa a questão implícita da satisfação<br />
de uma necessidade biológica, e este a mais define o que se estruturará<br />
como o gozo 8 (Dor, 1992, p. 145-146).<br />
8 O gozo (em Freud: genuss) aparece raramente na obra de Freud. Tomou forma como<br />
conceito na obra de Lacan e ao longo dos seminários teve também desenvolvimentos<br />
conceituais. Lacan estabelece uma distinção entre prazer e gozo, residindo este último na<br />
tentativa permanente de ultrapassar os limites do princípio de prazer. O que pertence ao gozo<br />
não é de forma alguma ligado ao naturalismo, parte do exato contrário, da relação entre o<br />
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