UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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campo primário de suas ações e neste âmbito tem conseguido<br />
reconhecimento como propositor de novas políticas públicas, sobretudo<br />
a partir da implementação da Secretaria Especial de Políticas para<br />
Mulheres. Consequentemente, variadas teorias acerca da representação<br />
política no feminismo têm surgido para dar conta deste novo papel<br />
crítico e construtivo.<br />
Ao discutir a universalidade do termo “mulheres”, Butler<br />
(2003) desconstrói a ideia de uma possibilidade de significação única<br />
para a categoria “mulher” ou “mulheres”. Acaba por abordar o fato de<br />
que diferentes mulheres ou diferentes feminilidades, de certa maneira,<br />
suscitariam diferentes tipos de opressão. A autora se utiliza deste<br />
argumento contra a noção de um patriarcado universal estabelecido em<br />
todas as sociedades, visto que isto fracassa em explicar a opressão de<br />
gênero nos diversos contextos culturais concretos em que existe.<br />
Que o corpo que se “é”, até certo grau, é um corpo que ganha<br />
um contorno sexuado em parte especular e em parte via condições<br />
exteriorizantes sugere que processos identificatórios são cruciais para a<br />
formação da materialidade sexuada (Butler, 1993). E neste estado é que<br />
se pode pensar nos autores de violência sexual, tanto no caso dos<br />
estudos que apontam uma vivência cíclica da violência sexual quanto no<br />
caso de uma identificação do sujeito autor de agressão com um autor de<br />
agressão em sua vida. Aqui também começam a despontar as<br />
possibilidades da psicanálise como ferramenta de análise.<br />
A psicanálise, ao se abrir também para o social, pode contribuir<br />
para ajudar o homem a lidar melhor com a violência, apontando áreas do<br />
sofrimento humano geradoras dessa violência. Assim, pode existir uma<br />
atuação preventiva. É claro que devemos evitar qualquer atitude utópica,<br />
messiânica ou moralista (Fagundes, 2004, p. 37); e mesmo a<br />
sobrevivência da psicanálise reside em assumir novos desafios, além do<br />
trabalho classicamente clínico. As condições culturais – muitas vezes<br />
adversas – colocam claramente à frente da psicanálise novos traçados a<br />
serem desbravados, e “o abuso sexual intrafamiliar é um desses<br />
desafios, teórico, clínico e social a um só tempo” (Faiman, 2004, p. 13).