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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

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Como finalização para a análise deste caso, será posta em<br />

evidência a performatividade constituída por Quiron em sua<br />

masculinidade e o efeito dos crimes que cometeu na sua compreensão<br />

do que é ser homem. O sujeito subscreve aos conceitos comumente<br />

associados à masculinidade nas sociedades ocidentais:<br />

Papel de homem é trabalhar, ser alguém na vida,<br />

estudar, coisa que eu nunca fiz na minha vida. Ter<br />

uma família, construir uma família. E ser alguém<br />

na vida, né? Isso, nada eu fui, desde pequeno.<br />

Sempre roubei, sempre matei, aí comecei com os<br />

crime feio, estupro. Hoje tô na cadeia, vou passar<br />

um bom tempo. Se depender de mim, eu vou<br />

passar um bom tempo aqui na cadeia. Seja o que<br />

deus quiser.<br />

Mesmo afirmando que voltará ao tráfico ao sair da<br />

penitenciária, Quiron também afirma seu desejo de evitar a vida envolta<br />

em criminalidade que viveu. Relata a ajuda que sua família lhe vem<br />

oferecendo na forma de uma casa em outra cidade com um emprego em<br />

um negócio na mesma localidade, mas também convive com o lucrativo<br />

tráfico de drogas em sua própria cela: “pretendo ser, né? Pretendo<br />

trabalhar, vivo pensando nisso; pretendo trabalhar. Tem o meu patrão,<br />

que quer botar uma droga na minha mão, mas eu não quero pegar. Ele<br />

tá comigo, o meu patrão. É, preso comigo, mora no mesmo cubículo que<br />

eu”.<br />

Estes trechos indicam como o trabalho, a família e o prover<br />

continuam sendo pivotais para a experiência da masculinidade para<br />

Quiron, em consonância com a maioria dos estudos sobre<br />

masculinidade, em especial na América Latina, que ainda se caracteriza<br />

pelo discurso machista (Messerchmidt, 2005; Marsiglio & Pleck, 2005;<br />

Gutmann & Vigoya, 2005). Afirma que falhou nestes quesitos, mas<br />

também que pretende atingi-los quando sair – pela porta da frente – da<br />

penitenciária. Em consonância com Femenias (2009), também fala da<br />

precariedade de seu trabalho e de como seu envolvimento com as drogas<br />

e o fim do relacionamento com Sandra tiveram o efeito do abandono do<br />

emprego comum e a volta para o tráfico de drogas: “enquanto eu não<br />

usava droga, eu trabalhava, né? Tinha. Pensava em ser alguém na vida.<br />

Comecei a usar droga, fui morar na favela, só azar”.<br />

A construção reiterada, em camadas que se depositam ao longo<br />

do tempo, é observável na descrição de Quiron de como estes fatos se

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