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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

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160<br />

pra evitar confusão, eu saí do pátio. Não peguei<br />

mais pátio. Então os cara sabe…<br />

Consequentemente, Quiron continua sofrendo graves ameaças à<br />

sua vida e ao seu bem-estar, sobrevivendo e se mantendo livre de<br />

violências maiores basicamente pelos contatos passados com traficantes<br />

e com outros presos, principalmente fora da penitenciária. Seu emprego<br />

como assassino do tráfico é instrumental para que essa situação se<br />

sustente. Narra, durante a entrevista, sua entrada para o tráfico e seu<br />

traquejo para cometer assassinatos:<br />

Tinha uns 12 anos. Aí depois eu comecei... uhm,<br />

nóis morava no Bela Vista, aí fui morar no bairro<br />

Ipiranga, na favela ainda, aí conheci uns mala. Aí<br />

vida boa, comecei a trabalhar de fogueteiro pros<br />

cara; quando a polícia vinha, eu soltava foguete.<br />

Ganhava 50 pila por dia; aí, porra, tava bom pra<br />

caramba. 50 pila não fazia nada, só ficava<br />

soltando foguete, soltando pipa. Aí pintou um<br />

assalto, fui junto com os cara, só fiquei dentro do<br />

carro, só fiquei esperando. Pô, achei a adrenalina<br />

legal. Outra vez fui, fiz um assalto, acabei<br />

cometendo um latrocínio ali. De menor, pô, me<br />

sentia legal, ó, sou o cara. Ando armado, todo<br />

mundo tem medo de mim. Eu sou pequeno, mas<br />

todo mundo tem medo de mim. Eu tô armado.<br />

Com um 38. [...] Tava de boa. Até os cara vinho<br />

assim: “pô, tu é sangue frio, tu mata os cara,<br />

explode as cabeça dos cara, vai pra... um<br />

cachorro quente, come um cachorro quente com<br />

ketchup, mostarda e sai, tá nem aí”. Mas pra mim<br />

era... uhm... normal. Pra mim, tirar a vida de uma<br />

pessoa era como tirar a vida de um passarinho.<br />

A falta de empatia pelas próprias vítimas já foi previamente<br />

comentada, e aqui novamente é enunciada. Diferentemente do estudo de<br />

Fernandez e Marshall (2003), no que diz respeito a Quiron esta falta de<br />

emoção ligada a atos altamente violentos também ocorre em crimes não<br />

sexuais, sendo mais caracterizado por uma falta generalizada de empatia<br />

do que por diferenças pontuais na articulação com vítimas sexuais.<br />

Devido às enunciações que aparecem nesta entrevista, foi realizada a<br />

tentativa de elucidar a dinâmica pulsional no caso Quiron. Alberti<br />

(2005, p. 356) afirma que

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