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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

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107<br />

definido pelo código penal brasileiro vigente no período das entrevistas,<br />

ou seja, contato pênis-vagina.<br />

Entre as oito entrevistas realizadas, três foram descartadas por<br />

critérios diversos:<br />

1. O sujeito estava completamente dopado (medicação dada pelos<br />

próprios médicos da penitenciária), e sua fala era ilógica e de difícil<br />

compreensão. As situações que relatava eram incompletas, sem<br />

conclusão, ou não faziam sentido. Todas as acusações eram negadas,<br />

mesmo de outros crimes não sexuais. O pouco que relata se passa<br />

apenas na sua relação com o tráfico de drogas e em uma disputa de<br />

território que teria sido resolvida com sua prisão pela acusação<br />

supostamente falsa de estupro.<br />

2. O sujeito parece verdadeiramente ter sido preso por algo que não<br />

cometeu. Caracteriza-se um ótimo estudo de caso de como o processo<br />

jurídico se passa contemporaneamente e como é realizada a produção de<br />

verdades jurídicas, objetivo que escapa ao escopo delimitado para a<br />

dissertação. O sujeito é visitado regularmente pela “vítima” e relata que<br />

a própria já tentou levar o caso ao judiciário afirmando que seus<br />

testemunhos foram falsos, fato corroborado pelos psicólogos da<br />

penitenciária. Foi, então, aconselhada a não fazê-lo para não ser acusada<br />

de perjúrio. Em comunhão com sua família (e a vítima, que também era<br />

uma familiar), foi decidido que o sujeito continuaria na penitenciária até<br />

o término de sua pena para evitar maiores problemas jurídicos.<br />

3. Uma entrevista pequena, de 20 minutos (para critério de comparação,<br />

a maioria das outras entrevistas realizadas tinha entre uma e duas horas<br />

de duração), em que o sujeito apenas acusa um traficante de ter utilizado<br />

uma tentativa de roubo que haveria realizado para colocá-lo na cadeia,<br />

dizendo que teria estuprado a moradora da casa que arrombou. A análise<br />

teria de adentrar muito mais o que se passa em localidades onde o<br />

tráfico de drogas se instalou do que na agressão sexual, pois esta só é<br />

negada pelo sujeito, que conta como roubou a casa e o que se passou<br />

dentro da mesma. Pouca coisa sobre masculinidade e gênero é passível<br />

também de ser analisada.<br />

Estas entrevistas foram transcritas e passaram por um processo<br />

de pré-análise pelo qual foram descartadas, uma vez que escapavam ao<br />

tema proposto para a dissertação. Todos os sujeitos assinaram<br />

termos de consentimento livre e esclarecido (em anexo) e concordaram

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