12.05.2013 Views

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

123<br />

Um dos pontos salientes das entrevistas realizadas durante esta<br />

pesquisa é que todos os sujeitos entrevistados – mesmo aqueles que<br />

admitem os crimes sexuais (seja estupro, seja atentado violento ao<br />

pudor) – formulam a mesma opinião sobre os autores dessas<br />

modalidades de crimes, ou seja, de que merecem a morte, o que parece<br />

inicialmente bastante paradoxal, visto que é exatamente nesta situação<br />

que se encontram e que estariam condenando a si mesmos à morte. Este<br />

discurso parece servir a um outro propósito: o de deixar claro que o<br />

sujeito que o emite não participou de nenhum crime dessa natureza.<br />

Na continuação de sua longa fala sobre a diferença entre provas<br />

e indícios, em que tenta provar sua inocência pelo fato de que as<br />

evidências encontradas em seu caso são fabricadas ou relativas a outras<br />

pessoas, Dylan fala também de como sua experiência dentro do sistema<br />

carcerário o alterou como sujeito:<br />

[...] eles não condenam por provas, né? Assim,<br />

condena por indício. Eu acho que essas pessoas<br />

de forma alguma deveriam ser jogadas dentro do<br />

sistema, entendesse? É meu ponto de vista,<br />

obviamente, certo? [...] Hoje me considero um<br />

cara que tem conhecimento do crime. Três anos e<br />

dois, três meses de cadeia, o sistema criou, a<br />

sociedade criou o criminoso. [...] Eu tinha uma<br />

preocupação. Em pagar minha conta de luz em<br />

dia, meu aluguel em dia. Chegava a perder o sono<br />

por isso. Hoje eu vejo de outra forma: eu não vou<br />

pra cadeia por isso, eu vou pra cadeia se eu<br />

discutir contigo e tu for lá me denunciar que eu<br />

sou pedófilo.<br />

Esta fala deixa transparecer alguns de seus argumentos sobre<br />

sua inocência, além de relatar a modificação impetrada pela convivência<br />

dentro de uma penitenciária e sua adquirida compreensão de como<br />

funcionam os crimes, suas denúncias e penas. Também utiliza esta fala<br />

para se contrapor ao atendimento em grupos de homens dos sujeitos<br />

acusados de crimes sexuais, argumentando que como foi condenado<br />

erroneamente o tratamento seria ilógico: “não, eu acho que assim ó,<br />

aquelas pessoas que cometeram isso, que cometeram esse crime,<br />

entendesse?”.<br />

Dylan conceitua a violência de maneira bastante generalizada:<br />

“eu acho que violência é tudo aquilo que ultrapassa o limite da outra<br />

pessoa, acho que em todo sentido, né?”. O que se define por limite

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!