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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

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possibilidades de não mais cometer estupros e violências sexuais,<br />

especialmente quando estes expressam seu desejo de não mais cometêlos.<br />

Outro ponto que considero necessário relatar é a falta de uma<br />

teoria “guarda-chuva” quando se trata de violência sexual e estupro.<br />

Simplesmente não existem estudos interligados buscando uma<br />

interlocução e a criação de um modelo – o que se encontra são estudos<br />

isolados, por vezes dialogando com outros estudos, mas nenhum desses<br />

propõe teorias explicativas que possam ser utilizadas com estes homens,<br />

nem mesmo teorias de intervenção que vão além das chamadas<br />

distorções cognitivas. O que isso implica é uma nova exclusão destes<br />

homens, na medida em que nem mesmo na literatura científica se tenta<br />

estabelecer um estado da arte ou um ponto de referência para os estudos<br />

com estupradores. Claramente existiram tentativas e proposições de<br />

modelos; mas, desde o fim da década de 70 e início da década de 80 do<br />

século XX, estes modelos foram basicamente abandonados – falo aqui<br />

especialmente do modelo que categorizava os estupradores pelos tipos<br />

de estupro que cometiam (por poder, sadismo ou raiva) retomado por<br />

Pardue e Arrigo (2007) – e são retomados por alguns autores apenas a<br />

partir do início do século XXI, sendo que, até o presente momento, não<br />

tomaram corpo como uma teoria suficientemente estabelecida nem<br />

complexa o suficiente para dar conta do que foi encontrado nesta<br />

pesquisa, portanto não foi utilizada.<br />

Existe uma necessidade de que mais estudos sejam produzidos<br />

sobre este tema no Brasil. A falta de bibliografia e de pesquisas<br />

nacionais sobre este tema é indicativo do mesmo efeito que a falta de<br />

políticas públicas neste sentido o é: estes sujeitos são ignorados, e isso<br />

aparentemente resolve o problema. Obviamente, esta articulação acaba<br />

por não modificar o status quo, e estupros continuam sendo ocorrência<br />

comum em qualquer lugar do país. A partir do momento em que existir<br />

um engajamento político e acadêmico sobre este tema, será possível<br />

pensar em políticas públicas que respondam às demandas levantadas por<br />

esta pesquisa, para que finalmente, assim, possamos dar conta da tarefa<br />

homérica que significa lutar contra toda forma de estupro e violência<br />

sexual. É impossível que continuemos a ignorar um problema que altera<br />

tanto de nossas vidas e continua a mortificar – no sentido dado por<br />

Marcus (1992) – suas vítimas. Este trabalho almeja, ao fim de tudo – e<br />

de maneira bastante idealista –, ser um passo, mesmo que mínimo, na<br />

direção de uma sociedade mais justa, igualitária e menos violenta. Para<br />

isso, é necessário refletir sobre a questão que até hoje não foi respondida<br />

de maneira satisfatória – e que duvido que algum dia o será – calcada na

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