UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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Violência Sexual de Florianópolis apresentados no início deste texto. É<br />
importante ainda considerar a estrutura que subjaz a este tipo específico<br />
de violência:<br />
A violência intrafamiliar continua acontecendo,<br />
apesar de algumas conquistas no campo<br />
institucional, político e jurídico. Mantém-se pela<br />
impunidade, pela ineficiência de políticas públicas<br />
e ineficácia das práticas de intervenção e<br />
prevenção. Mantém-se também com a<br />
cumplicidade silenciosa dos envolvidos: o silêncio<br />
da vítima, cuja palavra é confiscada pelo agressor<br />
através de ameaças; o silêncio dos demais<br />
parentes não agressores, que fecham os olhos e se<br />
omitem de qualquer atitude de proteção da vítima<br />
ou de denúncia do agressor; o silêncio dos<br />
profissionais que, em nome da ética e do sigilo<br />
profissional, se refugiam muitas vezes numa<br />
atitude defensiva, negando ou minimizando os<br />
efeitos da violência (Araújo, 2002, p. 5).<br />
Em consonância com a afirmação de Araújo, Lia Zanotta<br />
Machado (1998, p. 234) aponta os fatores culturais e jurídicos que<br />
influenciam a constituição deste quadro:<br />
A continuidade da inversão da incidência entre<br />
ocorrências de denúncias e da incidência de<br />
penalização, quando se contrasta “os estupros<br />
contra conhecidas” aos “estupros contra<br />
desconhecidas”, e “os estupros ocorridos no<br />
âmbito doméstico” aos “estupros ocorridos em<br />
lugares públicos”, indica que as denúncias por<br />
estupro nas relações parentais ou entre conhecidos<br />
são mais difíceis de serem consideradas como<br />
crimes no decorrer dos processos investigativos e<br />
judiciários.<br />
Outras formas de se lidar com a violência sexual acabaram por<br />
nascer no seio das teorias pós-estruturalistas. Sharon Marcus (1992) faz<br />
uma crítica à noção de que a violência sexual seria um inominável ou<br />
um irrepresentável, argumentando que essa definição acaba por cair em<br />
uma armadilha em que a violência engole o sujeito (e seu agenciamento)<br />
em seus esforços para tentar passar o horror e a iniquidade da violação<br />
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