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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

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181<br />

Concórdia, que é a comarca de lá. Aí me<br />

apresentei, tudo certinho. Casado, tudo. Daí a<br />

juíza viu que eu tava recuperado – que eu tava<br />

trabalhando. Na real, eu não tava aprontando<br />

mais nada, Foi agora essa bobeira que aconteceu<br />

aí, há 3 anos atrás, em 2005.Senão não entro,<br />

tava de férias ainda, tava curtindo minhas férias.<br />

Foi por isso que aconteceu isso. Senão, roubar<br />

não tinha roubado, não precisava disso. Ganhava<br />

1.500 real por mês.<br />

Nesta fala, utiliza duas novas justificativas para argumentar a<br />

favor de seu caráter de homem que não estupra: o emprego (juntamente<br />

com o salário) e o seu casamento. Novamente alude a fatores externos a<br />

si mesmo e a seu desejo como forma de demonstrar que não poderia ter<br />

cometido o crime, mesmo que o tenha. O revestimento das descrições do<br />

crime com um irracional, com um não saber, também é herdeiro dessa<br />

articulação com a tentativa de não simbolização e não representação.<br />

Outro ponto muito ressaltado por Carlos é o seu objetivo de,<br />

durante a sua pena e ao fim da mesma, montar e manter uma fábrica de<br />

bolas: inicialmente dentro da penitenciária; e, após a saída de ambos os<br />

internos que formam a sociedade responsável por esta empreitada, fora<br />

dela. A empresa contaria com investimentos externos do irmão de<br />

Carlos, mas ainda necessita do aceite da diretoria da penitenciária e de<br />

uma juíza com quem Carlos pretende conversar em sua próxima saída<br />

pelo regime semiaberto. Este projeto é fomentado por um outro preso<br />

que mora na mesma cela de Carlos. Este colega está realizando uma<br />

pena de trinta anos, fazendo com que a possibilidade de efetivamente<br />

levar esta empresa para fora da penitenciária seja ainda distante. Na<br />

verdade, a possibilidade em si de uma iniciativa privada dentro da<br />

penitenciária já é plena de obstáculos. Independentemente das<br />

dificuldades, Carlos continua trabalhando e apostando nesse projeto<br />

como outra maneira de se declarar recuperado.<br />

Outro fator identificado por Carlos é a metodologia empregada<br />

para a progressão de regime:<br />

Dentro da minha cabeça, é um sentimento. Tenho<br />

um sentimento, eu me mostrei recuperado. Eu<br />

objetivamente tô recuperado. Mas ninguém sabe.<br />

O juiz me avaliou pra saber? Ele conversou<br />

comigo pra saber se eu tô recuperado? Não. Daí<br />

ele negou três pedido de semiaberto. O que que

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