UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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aplicação da pulsão de dominação teria, principalmente como uma<br />
instância de proteção da integridade do sujeito, compreendendo, assim,<br />
como a pulsão – animada libidinalmente e portadora de uma violência<br />
própria pelo fato do sujeito não ter controle sobre esta – é componente<br />
primal da violência.<br />
Uma idéia mais fecunda era a de que uma parte do<br />
instinto [pulsão] é desviada no sentido do mundo<br />
externo e vem à luz como um instinto [pulsão] de<br />
agressividade e destrutividade. Dessa maneira, o<br />
próprio instinto [pulsão] podia ser compelido para o<br />
serviço de Eros, no caso de o organismo destruir<br />
alguma outra coisa, inanimada ou animada, em vez<br />
de destruir o seu próprio eu (self) (id., 1930, p. 141).<br />
A relação intensa com o narcisismo, que citei acima, encontrase<br />
relacionada com a satisfação experimentada e descrita pelos sujeitos<br />
que dela fazem parte, e Freud claramente anuncia esta satisfação<br />
libidinal no seguinte trecho:<br />
Contudo, mesmo onde ele surge sem qualquer<br />
intuito sexual, na mais cega fúria de destrutividade,<br />
não podemos deixar de reconhecer que a satisfação<br />
do instinto [pulsão] se faz acompanhar por um grau<br />
extraordinariamente alto de fruição narcísica,<br />
devido ao fato de presentear o ego com a realização<br />
de antigos desejos de onipotência deste último<br />
(ibid., p. 144).<br />
A sociedade civilizada tal como a conhecemos não seria<br />
possível se todo sujeito apenas realizasse seus desejos de onipotência,<br />
sendo necessária uma instância de controle e redução desta natureza<br />
destrutiva que Freud entende como natural do homem. É por isso que,<br />
quando pensa a guerra, Freud naturalmente a coloca em contraposição à<br />
paz e à civilização, pois a libertação destas tensões existentes em cada<br />
sujeito da sociedade só faz com que haja a nulificação de todo trabalho<br />
civilizatório até então. Aqui interessa a passagem em que Freud fala<br />
que, ao fim da guerra, também desaparecem as neuroses de guerra, pois,<br />
assim, é possível entender como este estado de libertação completa das<br />
rédeas civilizatórias também é danoso para o sujeito, mesmo que seja<br />
completamente reversível. Ou seja, Eros também está presente; não<br />
existe pura pulsão de morte, nem pura pulsão de vida em nossa vida