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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

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da Penha, em 22 de setembro de 2006. A lei alterou vários dos aspectos<br />

já levantados e criticados acadêmica e socialmente no tocante à<br />

violência contra as mulheres; porém, no que tange a este trabalho,<br />

alterou o entendimento, as definições e as punições das agressões<br />

sexuais vividas em situações de união estável, relações de coabitação e<br />

intrafamiliares. Anteriormente, os casos que envolviam este tipo de<br />

circunstância situavam-se em um limbo jurídico, visto que não<br />

concerniam a violações dentro de conjugalidades reconhecidas por lei,<br />

sendo tratadas sem considerar a relação entre as partes.<br />

Exatamente as relações que proporcionam uma complexidade e<br />

uma dinâmica diferenciadas para as situações de violência sexual<br />

intrafamiliar eram ignoradas pelo sistema jurídico brasileiro. Este ainda<br />

se baseava em modelos normativos de sexualidade e relacionamentos,<br />

que claramente não condiziam com a realidade experienciada pelos<br />

sujeitos vivendo sob sua égide. Os aspectos singulares presentes nos<br />

conflitos familiares, a produção a priori de lugares de vítima e autor de<br />

agressão e as relações caracteristicamente complexas encontrados no<br />

seio das famílias (ampliadas) brasileiras são todos pontos em que a<br />

sexualidade, as pulsões e a lei se entrecruzam. Não apenas nos seios das<br />

famílias, mas nas ruas, na escola, em nossas casas, a violência sexual é<br />

uma sombra persecutória, que modela e limita as vidas de crianças,<br />

mulheres e homens.<br />

Uma das lutas históricas do feminismo tem sido levar à luz<br />

essas violências que cotidianamente são produzidas na sociedade<br />

brasileira; e as experiências realizadas pelo Núcleo Margens colocaram<br />

em evidência, para todos os envolvidos, a grande dificuldade que<br />

mesmo os profissionais treinados no atendimento de mulheres em<br />

situação de violência ainda apresentam. Este déficit não existe por uma<br />

simples falta de formação. Pelo contrário, as próprias definições e<br />

estudos sobre este tema têm como característica a discordância e a<br />

multiplicidade de teorias que não travam comunicação entre si. Este<br />

trabalho tenta criar uma rota de comunicação entre a psicanálise –<br />

utilizando as possibilidades de uma análise pulsional dos eventos de<br />

violência sexual – e as teorias feministas para produzir um amálgama<br />

capaz de analisar não apenas o psíquico, mas todo o entorno construído<br />

social e culturalmente ao redor destes crimes. Para isso, é necessário que<br />

tenhamos uma visão clara sobre o objeto de que estamos tratando e<br />

sobre as definições que regem nossas leis e nossas teorias.<br />

Esta dissertação pretende fazer uma análise das enunciações de<br />

sujeitos condenados à prisão por estupro, atentado violento ao pudor,<br />

corrupção de menores e pedofilia. Não existe a tentativa de

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