12.05.2013 Views

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

136<br />

Concluindo, o caso de Tarso é complexo e balizado por<br />

enunciações fraturadas, ora atravessadas pela lei, ora pelos direitos, mas<br />

sempre evocando um sujeito que está em uma relação de interpelação. O<br />

intuito deste trabalho, no entanto, não é a análise sobre a produção do<br />

discurso jurídico, mas sobre o que o próprio Tarso compreende daquilo<br />

que passou. Nesse sentido, gostaria de ressaltar como o próprio se refere<br />

ao estupro: sempre se utiliza de outras palavras, seja o “nisso aí”, o<br />

“troço aí” ou “esse caso aí”. A nomeação do estupro é performativa – “o<br />

ato de reconhecimento torna-se um ato de constituição: o endereçamento<br />

anima o sujeito à existência” 13 (Butler, 1997, p. 25) – e, como tal,<br />

evitada pelo sujeito. Quando perguntado sobre sua opinião acerca de<br />

estupradores, Tarso fala mais alto do que no resto da entrevista e<br />

reponde: “olha, eu acho sério esse caso aí, pra mim eu acho muito,<br />

muito indignado quando vem esse assunto aí, uma coisa muito<br />

indigna”. Aqui, novamente se utiliza de uma evitação para falar do<br />

crime e marca esta enunciação como diferenciada do resto através da<br />

marcação da voz. Este escape para o discurso aparenta conter em si o<br />

afastamento da prática de que é acusado, pensando que o ato<br />

performativo/enunciativo aqui presente objetiva efetivamente retirá-lo<br />

da posição de agressor sexual.<br />

13 “The act of recognition becomes an act of constitution: the adress<br />

animates the subject into existence”.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!