UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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4.4 O Caso Quiron<br />
137<br />
Quiron, ao ser entrevistado, tinha 32 anos de idade,<br />
considerava-se de descendência italiana e não teve educação formal. Foi<br />
encarcerado inicialmente na 2ª Delegacia de Polícia, localizada no bairro<br />
Barreiros, em São José, cidade conurbada com Florianópolis.<br />
Não recebeu tratamento algum em grupos de homens, terapia<br />
individual ou em programas como o Sentinela. Porém, já encarcerado,<br />
passou grande parte de sua pena no Hospital de Custódia localizado em<br />
anexo à penitenciária onde foi realizada a pesquisa. Foi posteriormente<br />
deslocado para a chamada “Casa Velha” (ala comum da penitenciária),<br />
onde permanece atualmente mesmo que suas condenações indiquem que<br />
deveria estar alocado na ala de crimes sexuais. A trajetória de Quiron<br />
dentro da própria penitenciária será comentada de maneira mais<br />
aprofundada posteriormente.<br />
Foi condenado anteriormente à vigência da Lei Maria da Penha,<br />
e a mudança da lei nada acarretou em sua pena. Sua pena atualmente<br />
corresponde a vinte e quatro anos de encarceramento: onze anos pelo<br />
estupro de uma menor de idade, outros onze anos pelo estupro de uma<br />
mulher e dois anos pelo roubo de um aparelho de som de um carro.<br />
Quiron irá a júri novamente para responder por uma terceira acusação de<br />
estupro.<br />
Ao ser perguntado sobre sua pena, relata que acha que “tá<br />
bom”. Esta fala já indica um traço que aparecerá constantemente nas<br />
enunciações de Quiron – falo da invocação que este faz da lei jurídica e<br />
do encarceramento como barramento para aquilo que Quiron entende<br />
como sua incapacidade de resistir ao seu próprio desejo.<br />
Quiron também coloca neste mesmo plano – do barramento – os<br />
tratamentos que recebeu no Hospital de Custódia e que ainda recebe<br />
através de medicamentos e espaçadas sessões com os psicólogos que<br />
trabalham na penitenciária: “tratamento todo mundo gosta, né?”. Em<br />
outro momento da entrevista, fala de uma situação que ocorreu há um<br />
ano, quando completou seis anos de prisão e foi chamado para os<br />
trâmites que o colocariam em regime semiaberto:<br />
Quando veio meu pedido de semiaberto. Ano<br />
passado veio meu pedido de semiaberto. Até falei<br />
com o psicólogo assim: “mas já pedido de<br />
semiaberto? Mas eu só tô há 6 ano e tem que<br />
fazer 13”. Aí falaro bem assim: “mas não, já tá<br />
na hora”. Eu bem assim: “não, então a senhora