UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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Capital, no bairro Lagoa da Conceição. Após este primeiro momento,<br />
foi levado para a Primeira Delegacia de Polícia, no bairro Centro.<br />
O sujeito não teve nenhum atendimento no Programa Sentinela<br />
ou em qualquer grupo de homens, tendo acesso apenas ao grupo de<br />
psicólogas e psicólogos da própria penitenciária. Foi preso em 2005,<br />
antes da entrada em vigor da Lei Maria da Penha, no entanto mudanças<br />
nas leis alteraram sua passagem para o regime semiaberto, que agora<br />
necessita de um sexto da pena completa.<br />
Os crimes que constam em sua condenação são Assalto,<br />
Sequestro, Atentado Violento ao Pudor e Estupro, totalizando doze anos<br />
de prisão, a pena mínima para os crimes descritos, pelo fato de ser réu<br />
primário e ter “conversado” durante seu julgamento. O crime cometido<br />
por Carlos juntamente com outro menor de idade contra duas mulheres<br />
foi largamente publicizado na mídia estadual, o que pode ter contribuído<br />
para sua admissão e detalhamento do ocorrido. Na ocasião, como será<br />
detalhado mais adiante, estupraram duas jovens após roubar-lhes o<br />
carro, em um episódio, segundo a narrativa de Carlos, marcado pelo<br />
consumo de álcool, pela coação (armada) por parte de um dos membros<br />
do grupo e pelo torpor decorrente da situação até então imprevista.<br />
Durante a entrevista, ao avaliar sua atual condição, aciona elementos<br />
como o trabalho, a família, seus projetos dentro da penitenciária e fora<br />
da mesma, o apoio da comunidade na ocasião de sua primeira saída em<br />
regalia e outros temas que tentam demonstrar uma impossibilidade de<br />
ligar o sujeito apenado ao mesmo sujeito que cometeu um estupro.<br />
Carlos observa que o atendimento psicológico já realizado<br />
dentro da penitenciária é útil, mas tem suas deficiências (no momento<br />
em que a pesquisa foi realizada, a penitenciária contava com duas<br />
psicólogas e um psicólogo para atender todos os presos): “seria, seria<br />
bastante interessante, eles até ajudam de certa forma, mas não tudo que<br />
o cara precisa. Um acompanhamento psicológico. Quando o cara pede,<br />
eles chamam. Mas eles deveriam chamar direto, pra ver como é que o<br />
cara tá”. Carlos continua relatando suas experiências dentro da<br />
penitenciária e, então, inicia uma fala sobre tratamento e recuperação<br />
que dará toda a tônica da entrevista: “trabalho aqui dentro, nem todos<br />
os preso trabalho, eu tô lotado na oficina ali, na malharia ali, dois anos<br />
e pouco, eu tô trabalhando. Eu tô recuperado, eu me considero<br />
recuperado. Por mais que seja, eu tô recuperado”. Aqui o sujeito<br />
invoca o trabalho como redentor, como se o fato de estar trabalhando já<br />
há dois anos e meio dentro da penitenciária fosse um indicativo de que<br />
não mais cometeria um crime como o que cometeu – claramente não é<br />
disso que se trata. Novamente vemos como as questões da