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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

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descoberto e que também ilustra, de maneira clara, como a relação de<br />

Quiron com a lei é estreita: “Em Barreiros, matei ela à facada, e treze<br />

facada, a última fatal, foi na fronte assim (bate na mesa), faca do<br />

rambo. Aí dei na fonte dela. […] Aí atravessou. Aí cheguei em casa,<br />

telefonei do orelhão”. Nesta situação, acredito ser possível observar<br />

como as tentativas de transgressão da lei para invocá-la vão aumentando<br />

em quantidade e em tipo; o sujeito já não usa mais telefones públicos<br />

como precaução, usa o telefone da sua própria casa. Além disso, volta<br />

posteriormente à cena do crime para acompanhar o recolhimento e<br />

perícia do local:<br />

Aí no outro dia de manhã... Aí na hora pensaro<br />

que era mentira. Outro dia de manhã voltei a<br />

ligar. Porque eu fui lá de noite pra ver se tinham<br />

recolhido o corpo, não, tava ainda. Cheguei de<br />

manhã, mostrei o local certinho,tudo direitinho.<br />

Aí foro lá recolher o corpo. Quando eles tavam<br />

recolhendo o corpo, fui lá ver. Fui ver eles<br />

recolher o corpo. Até fiquei cabrero, porque o<br />

pneu da minha bicicleta era um pneu garrudo e<br />

tava marca perto do corpo. Quando eu cheguei,<br />

eu vi a marca do pneu. Daí eu pensei: “vão pegar<br />

no meu pé”, né? Aí eu saí, mas não deu nada.<br />

Esse homicídio, eles tão até hoje querendo saber<br />

quem foi.<br />

Segundo Andrade (1992), esta provocação incessante da lei –<br />

evidenciada na quase estereotípica volta ao local do crime e na excitação<br />

frente à possibilidade de ser reconhecido pela marca de seus pneus – é<br />

um aspecto que se interliga com seus efeitos, promovendo uma rede<br />

metonímica que o sustenta como sujeito:<br />

(...) esta provocação incessante da lei implica no<br />

próprio reconhecimento da lei que ele pode<br />

desafiar, experimentando assim a economia do<br />

gozo, que é o que ordena sua estrutura. Por isso, a<br />

transgressão é o correlato inevitável da<br />

provocação. Nada melhor para assegurar-se da<br />

existência da lei do que sua transgressão. Aliás, as<br />

sucessivas transgressões conduzem-no, em última<br />

análise, metonimicamente, ao limite máximo que<br />

é a lei do incesto (Vd. Sade). Assim, o perverso,<br />

ao provocar e transgredir os limites da lei, procura

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