UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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condenada”. Aí fui lá pra ver. Chego lá – ainda<br />
faço ainda papel de pai –, fui lá e assumi a<br />
bronca lá, levei ela pra casa. Tirei ela do São<br />
Lucas e levei pra casa.<br />
Este assumir a bronca de que fala Esaú se configura como<br />
aceitar uma filha quase desconhecida em sua casa, por um tempo<br />
estimado por ele de três meses, até sua prisão – três meses que foram<br />
suficientes para a briga entre os dois e também pelas acusações de<br />
atentado violento ao pudor.<br />
Ainda sobre a paternidade, Esaú diz estar descontente com suas<br />
filhas pelas acusações feitas contra ele: “eu, pra mim, isso aí já era. Um<br />
filho fazer isso aí com um pai. Uai, não, é uma pessoa que não tem<br />
coração, eu já digo isso aí”. As consequências emocionais do<br />
sofrimento do encarceramento seriam, então, as raízes de seu<br />
afastamento de sua família, e não as acusações ou a raiva que diz ser<br />
sentida pelos outros membros de sua família contra ele em virtude da<br />
violência perpetrada contra sua filha, novamente implicando a<br />
centralidade da paternidade para sua vivência masculina.<br />
No discurso de Esaú sobre a criação dos filhos, o tópico que<br />
recebe mais atenção é o da educação, que, a seu ver, deve ser a mesma<br />
que recebeu, mesmo envolvendo violência ou trabalho infantil. “Hoje<br />
em dia. O filho, qualquer coisinha, se tu levantar a voz, já te bota na<br />
cadeia. Se tu levantar a mão, já te bota na cadeia” – esta fala implica<br />
uma diferenciação grave entre sua geração e a geração de seus filhos,<br />
que tem um amparo na lei em termos de violência doméstica, podendo<br />
implicar criminalmente um pai que utiliza tais métodos para a educação.<br />
Em outra parte de sua fala, ainda relaciona esta ideia com a de que os<br />
pais têm como dever orientar e conversar, mas que, pela diferença<br />
existente entre as crianças do seu tempo e as contemporâneas, estas<br />
estariam menos aptas a ouvir e a aprender, culminando com o exemplo<br />
de sua filha, que se voltou para a criminalidade e para envolvimentos<br />
românticos com homens casados.<br />
Esaú utiliza todos os motivos expostos acima para argumentar o<br />
uso de violência contra sua filha, mas ainda assim seu discurso<br />
comporta uma dimensão de ambiguidade sobre o fato: “eu não acho que<br />
foi errado. Foi errado. Quando a gente fica nervoso, não tem descuido<br />
aí. Hoje a gente pensa duas vezes, naquela época pensava tudo duma<br />
vez”. A frase acima parece indicar que, por um lado – o da lei –, Esaú<br />
considera errado o que fez, tem consciência disso, enquanto pela<br />
maneira como pensa, a estruturação psíquica explanada ao longo desta