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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

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165<br />

contrato simbólico que se dá pela linguagem. Assim, os homens<br />

acordariam com as mulheres um lugar no logos, dizendo com isso que<br />

as mulheres podem ser faladas, discursadas, interlocutadas pelas<br />

palavras de outros sem que se permita às mulheres uma voz própria.<br />

Este é o sentido da teorização do falogocentrismo, no sentido de se<br />

erigir um amo da linguagem, em símbolo universal, a metáfora maior no<br />

poder de olhar e significar (ibid., p. 57). O que esta teorização traz de<br />

interessante para a análise do caso Quiron é que, na penitenciária, o que<br />

acontece é que o sujeito fica exatamente desprovido desta lógica<br />

sexual/social. Seu discurso não tem mais o valor de performativo,<br />

exceto para os fatos passados, para aquilo que conta. Neste sentido,<br />

existe uma inversão da lógica fálica que regia a vida anterior do sujeito,<br />

que se via como aquele que tinha o direito de usufruir do corpo de<br />

outrem sem qualquer sanção. O que acontece na penitenciária é que o<br />

masculino não mais tem o logos como parte de seu repertório, e isso de<br />

alguma forma modifica o que este sujeito enuncia ao longo da<br />

entrevista, demonstrando, ao seu final, como as consequências de tudo<br />

que fez o afetaram. Perguntado se existe a possibilidade de novamente<br />

cometer estupros ao sair da penitenciária, Quiron fala: “espero que não,<br />

espero que não. Não, já basta a lição que eu ganhei na vida, né?”. E,<br />

quando perguntado sobre o que sente quando pensa nas coisas que fez,<br />

relata:<br />

(...) me sinto culpado. Por isso que eu quero<br />

pagar o que eu devo. Eu achava que devia pegar<br />

mais cadeia, né? Mas eles, o máximo que eles me<br />

dão é 30 ano. Por isso que, quando o negão caiu,<br />

eu não fiquei muito feliz, não, porque, caiu<br />

hediondo, caiu muita cadeia, né? Se hediondo não<br />

tivesse caído, eu tinha puxado 30 ano, e 30 ano é<br />

uma vida dentro da cadeia. E... e tu não ia voltar<br />

por um bom tempo. Sem visita, ainda, sem nada;<br />

não tem como usar droga, não tem nada.<br />

O trecho acima é contraditório, mas várias vezes o sujeito<br />

repete a mesma frase durante a entrevista, e o valor da repetição não<br />

pode ser ignorado, principalmente quando tratamos da teoria<br />

psicanalítica. Seu valor é fundamental em demonstrar onde a demanda<br />

se constitui no discurso do sujeito. Como apontado anteriormente, a<br />

político se amplia de sua concepção inicialmente familiar ou comunitária e cristaliza o<br />

poder de decisão e a autoridade dos homens relegando as mulheres à submissão.

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