UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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A masculinidade, portanto, continua sendo um atributo muito<br />
importante para Tarso; e, quando perguntado sobre o que acha que<br />
significa ser homem, tem dificuldades em responder. Após algum tempo<br />
pensando, finalmente responde: “acho que é ser homem mesmo, é viver<br />
bem, viver tudo com as pessoa, ter uma boa conduta, acho que é isso<br />
aí”. Novamente o discurso de Tarso é atravessado pela Lei – não apenas<br />
a lei constitucional, mas a lei que o implica como sujeito instituído na<br />
sociedade. Talvez mesmo por estar dentro de uma instituição total que a<br />
compreensão acerca do escopo da internalização da lei fique clara para<br />
Tarso; e tal entendimento o faz pautar inclusive aquilo que entende<br />
diretamente como sua identidade sexual pelo controle, ou seja, ter boa<br />
conduta.<br />
Outra experiência que Tarso considera importante e que ocupa<br />
grande parte de suas falas durante a entrevista é a paternidade. E, se<br />
entendermos a família como tendo tamanha importância para Tarso, fica<br />
claro que este lugar também é onde se constituem as suas<br />
performatividades. Há pesquisas (Stacey, 1996; Dunne, 2001 apud Mac<br />
an Ghail & Haywood, 2003) que afirmam que este tema é um bom<br />
exemplo de mudança e de construção social envolvida com o gênero e<br />
exemplifica a constituição processual, performática e atuante da<br />
masculinidade, desconstruída como algo inerente ao sexo e possessão<br />
individual e inata.<br />
No que concerne à paternidade, Tarso ainda relata uma situação<br />
em sua vida referente à relação com uma de suas filhas:<br />
(...) passei muito sofrimento por essa minha filha,<br />
eu e minha mulher. Teve muito com ela, porque<br />
eu acho que ela tinha uns 12 ano, por aí, ela<br />
começou a sair de casa. Saía, chegava de<br />
madrugada, a gente não sabia pra que lado<br />
andava. Nós sofremo muito por causa disso.<br />
Grupo de ajuda do Conselho Tutelar, não<br />
consegui. Fui pra delegacia pra ver se me<br />
ajudavo, não me ajudaro.<br />
O que se revela de interessante nesta situação é a tentativa falha<br />
de utilização dos aparelhos de Estado por parte de Tarso para resolver os<br />
problemas com sua filha, novamente demonstrando como a paternidade<br />
é uma parte importante da constituição performativa de sua<br />
masculinidade.