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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

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primeira vez em sua vida que haveria sentido vontade de cometer um<br />

estupro. Quando perguntado sobre como se sentia durante o próprio ato<br />

do estupro, relata: “ah, sentia que tava ruim. Às vezes parava pensava,<br />

mas continuava a ter prazer e – coisas ruim aconteceu”. A dimensão do<br />

prazer também deve ser investigada, principalmente se este é um crime<br />

que envolve exatamente a utilização do corpo de outrem para a<br />

satisfação de si, ao que Quiron responde que sentia prazer, no entanto<br />

não teria tido um orgasmo. Argumenta que teria feito tudo isso à menina<br />

de rua (cujo nome sequer sabe) por causa do crack, droga que usava<br />

regularmente após o fim do relacionamento com Sandra: “tinha usado<br />

crack. Todas as vez. As três vez que eu fiz isso, eu tava com crack. Tava<br />

virado na capa de gado”.<br />

Além disso, o discurso do sujeito é confuso no tocante de<br />

quando se passou o estupro: por vezes coloca a morte da vítima anterior<br />

ao estupro, enquanto em outras frases o situa posteriormente. Entretanto,<br />

talvez o fator mais importante seja o da escolha estética da vítima:<br />

cabelos negros, pele branca e feições parecidas com as de Sandra.<br />

Além do fator estético, outro ainda entra em jogo, qual seja, o<br />

discurso do próprio Quiron durante os estupros que cometeu: “pensava<br />

que era ela. E pegava estrangulava e pensava ‘é tu, sua vagabunda, te<br />

mato’”. A “ela” a qual se refere é Sandra, sua ex-companheira. Quiron<br />

relata que, em todos os estupros, pensava em Sandra: “é, falava,<br />

chamava outro nome. Sandra, da minha ex-mulher”. Ainda sobre o<br />

estupro da moradora de rua, Quiron continua: “aí a guria: ‘pô, mas tu<br />

nem me conhece, por que que tás falando disso?’. Eu disse: ‘cala a<br />

boca, sua vagabunda’. Chamava até... gritei o nome dela, Sandra. Até<br />

isso”.<br />

Posteriormente ao estupro e assassinato desta vítima, Quiron a<br />

enterra, e apenas agora revela que todos estes acontecimentos se<br />

passaram em um sítio onde trabalhava. A utilização de um local<br />

conhecido pode ser um fator importante, porém Scully (1994, p. 175)<br />

argumenta que a escolha por vítimas de estupros cometidos em<br />

situações sem planejamento, como relata Quiron, normalmente é<br />

aleatória e oportunista. Além disso, Quinsey e Upfold (1985) relatam<br />

que estupros cometidos com a ausência de armas têm maior chance de<br />

terminar com a morte da vítima, contrariando a crença descrita por<br />

vítimas de estupro,como cita Marcus (1992), de que, ao não resistirem<br />

ao estupro e às ameaças, teriam uma maior chance de sobreviver ao<br />

ataque. Os resultados das referidas pesquisas são refletidos no que se<br />

passou no crime cometido por Quiron.

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