12.05.2013 Views

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

de combater um indivíduo isolado e dominante, e<br />

fosse dissolvida depois da derrota deste, nada se<br />

teria realizado. A pessoa, a seguir, que se julgasse<br />

superior em força, haveria de mais uma vez tentar<br />

estabelecer o domínio através da violência, e o<br />

jogo se repetiria ad infinitum. A comunidade deve<br />

manter-se permanentemente, deve organizar-se,<br />

deve estabelecer regulamentos para antecipar-se<br />

ao risco de rebelião e deve instituir autoridades<br />

para fazer com que esses regulamentos - as leis -<br />

sejam respeitadas, e para superintender a<br />

execução dos atos legais de violência (Freud,<br />

1930, p. 247).<br />

Na continuidade desta reflexão sobre a imbricação instituída<br />

entre sociedade, lei e violência, aparece uma leitura de como o poder é<br />

dividido de maneira desigual dentro de qualquer grupo humano, desde<br />

força física diferenciada entre filhos, pais, mulheres e homens, e, mais<br />

além, como consequência da guerra e da conquista, a relação senhor e<br />

escravo, vencedores e vencidos. A “justiça da comunidade então passa a<br />

exprimir graus desiguais de poder nela vigentes. As leis são feitas por e<br />

para os membros governantes e deixa pouco espaço para os direitos<br />

daqueles que se encontram em estado de sujeição” (ibid., p. 248). A<br />

importância desta reflexão se exprime neste trabalho pelo fato de que<br />

todos os sujeitos entrevistados se encontram exatamente nesta camada<br />

desprovida de poder e sujeitada da maneira mais bruta pelas leis:<br />

justamente as camadas baixas da população, exatamente no estado de<br />

sujeição.<br />

Este espaço de sujeição é necessariamente violento, e o espaço<br />

que é atualizado com este intuito que é encontrado nas penitenciárias. É<br />

exatamente a realização da utilização da força na sociedade para que os<br />

impulsos violentos sejam rechaçados, em sua potência mais crua e<br />

esteticamente realizada. Segundo Freud (ibid., p. 251), “estaremos<br />

fazendo um cálculo errado se desprezarmos o fato de que a lei,<br />

originalmente, era força bruta e que, mesmo hoje, não pode prescindir<br />

do apoio da violência”.<br />

Sobre a motivação dos sujeitos para serem levados à violência e<br />

à guerra, Freud delimita duas frentes de acesso ao que ocorre, mas sem<br />

deixar de lado todas as questões idealistas, sejam estas nobres ou vis,<br />

declaradas ou jamais mencionadas. Entre elas, “está certamente o desejo<br />

da agressão e destruição: as incontáveis crueldades que encontramos na<br />

história e em nossa vida de todos os dias atestam a sua existência e a sua<br />

99

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!