UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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Neste momento específico de mudança para as questões<br />
relacionais assinaladas pelos estudos de gênero, faz-se importante uma<br />
recuperação histórica do conceito de “identidade de gênero”, que tem<br />
sua origem em leituras instintualistas (principalmente pela leitura<br />
errônea do conceito de Trieb, traduzido como “instinto” e não como<br />
“pulsão”) de Freud, na psicopatologia e na sexologia, e até mesmo na<br />
psicobiologia das diferenças sexuais e na endocrinologia. Juntam-se a<br />
isso as primeiras cirurgias de redefinição de gênero realizadas nos<br />
meados de 1960. Todas estas circunstâncias e ainda a chamada “segunda<br />
onda” do feminismo evidenciaram como campo de pesquisa as relações<br />
entre determinismos biológicos e construcionismo social das diferenças<br />
de sexo/gênero. Durante este período, entende-se que o conceito de<br />
identidade de gênero toma força, muito influenciado pelo pensamento de<br />
Simone de Beauvoir da década de 1940 de que “não se nasce mulher,<br />
torna-se mulher”.<br />
Conceição Nogueira (2003) afirma que o reavivamento social<br />
pelas questões da mulher e do gênero da década 1970 adentra a<br />
academia e eventualmente se aloja na Psicologia. Com essa inserção<br />
acadêmica, também emergem as primeiras críticas feministas à ciência e<br />
à epistemologia, inicialmente propondo a ideia de que existiriam muitas<br />
distorções androcêntricas no fazer científico. Como os próprios estudos<br />
feministas não se enquadravam dentro de uma estrutura clássica de<br />
ciência, um de seus primeiros (e grandes) trabalhos foi elaborar uma<br />
crítica fundamentada a seus pressupostos. Portanto, inicialmente se<br />
desenvolvem críticas à masculinidade e à objetividade científica, assim<br />
como ao positivismo.<br />
A Psicologia feminista se posiciona inequivocamente numa<br />
linha de ação ativamente antissexista, sustentando que, aos olhos da<br />
ciência, tanto as experiências quanto valorações, preocupações e<br />
vivências de homens e mulheres devem ser iguais. Assim, a Psicologia<br />
feminista não só propõe a compreensão da chamada “condição<br />
feminina”, mas também de outros sistemas de classificação e geradores<br />
de opressão, como raça, orientação sexual, classe, entre outros<br />
(Nogueira, 2003).<br />
Se o gênero consiste dos significados sociais que o sexo<br />
assume, então o sexo não acumula significados sociais como<br />
propriedades aditivas, mas é trocado pelos significados sociais que<br />
toma; o sexo é perdido no decurso desta assunção, e o gênero emerge<br />
não como um termo em continuidade com sexo, mas um que absorve e<br />
desloca o “sexo” (Butler, 1993).