UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
156<br />
reduzem a ansiedade, culpa e perda de auto-estima<br />
com a mais importante consequência destas<br />
distorções para o intuito presente sendo a negação<br />
de dano à vítima. (Fernandez & Marshall, 2004, p.<br />
12; tradução minha). 19<br />
Quiron explica seu comportamento utilizando-se do conceito de<br />
neurose, novamente apelando a um incontrolável, algo fora de sua<br />
compreensão e alçada. Utiliza-se do que entende como uma patologia<br />
mental para justificar suas ações, escapando das possibilidades de<br />
mudança:<br />
É, eu achava estranho, aí eu já fiz isso. Não gosto<br />
dele por ele ter feito isso. Aí malhei o sarrafo<br />
nele, peguei uma tranca, fui parar na toca,<br />
apanhei pra caramba. Quebrei até a mão aqui<br />
tudo por bater nele. Aí o agente disse: “eu não<br />
entendo que o estuprador tá vindo bater em<br />
estrupador”. Eu disse assim: “me deu uma<br />
neurose, senhor. Eu não gostei do que ele fez com<br />
a filha dele, acabei fazendo isso com ele”.<br />
Violências como esta relatada por Quiron são particularmente<br />
reconhecidas por sua prevalência nos casos de apenados por crimes<br />
sexuais. Marques Junior (2007) coletou formulações sobre estes crimes<br />
em uma pesquisa com operadores do direito:<br />
Por estar inserido em um tipo penal claramente<br />
definido, o “Promotor C” entende que o<br />
estuprador é considerado como autor de um<br />
“crime pavoroso e sem justificativa. E por ser<br />
visto como muito perigoso, como uma ameaça”,<br />
torna-se alvo privilegiado de violência sexual<br />
dentro do cárcere. Todavia, quando falamos de<br />
violência sexual, nossos entrevistados afirmam<br />
que esta situação se estende para além dos<br />
19 Denial, minimization, and rationalization of the offenses effectively disavows or<br />
underestimates the harm done to the victim and attributes responsibility to factors outside<br />
the sexual offenders themselves. These distortions allow sexual offenders to continue<br />
offending by reducing anxiety, guilt, and loss of self-esteem with the most important<br />
consequence of these distortions for the present issue being the denial of harm to the<br />
victim (Fernandez & Marshall, 2004, p. 12).