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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

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Embora não se considere a submissão aos maus<br />

tratos como um sintoma neurótico, é posível<br />

traçar, com ele, um paralelo. Como o sintoma<br />

neurótico, a submissão aos maus tratos também<br />

apresenta as três características apontadas por<br />

Freud (1895/1978) para a compulsão histérica,<br />

quais sejam: 1) é ininteligível, 2) é refratária de<br />

qualquer atividade de pensamento, 3) e é<br />

incongruente em sua estrutura (Couto, 2005, p.<br />

29).<br />

Couto (2005, p. 17) destaca que é possível fazer um paralelo<br />

com a filosofia de Hegel, ao pensar “um paralelo entre a violência de<br />

gênero e a relação Senhor/Escravo não como algo atribuído apenas a um<br />

dos parceiros, mas a uma relação cuja manutenção só é possível<br />

enquanto compartilhada por ambos”. Tal compreensão encontra<br />

paralelos também na questão da subjetivação colocada por Judith Butler<br />

em seu livro The Psychic Life of Power (1997), que discutirei<br />

posteriormente. “O gozo da posição de escravo é o que mantém a<br />

submissão, e a libertação somente se dá pela ruptura com o que a<br />

sustenta, através da mudança da posição subjetiva de usufruto de tal<br />

gozo” (Couto, 2005, p. 17).<br />

A leitura de Butler (1997) da dinâmica senhor-escravo de Hegel<br />

é pensada apenas no sentido da auto-escravatura, o corpo tido como algo<br />

a ser negado, mortificado e subordinado à uma demanda ética (p. 22).<br />

Além do mais compreende ser esta uma dinâmica presente na<br />

constituição mesma do sujeito, encontrando na repetição e subordinação<br />

ao discurso e à linguagem uma forma de assujeitamento. Liga a<br />

dinâmica Hegeliana aos conceitos de Althusser, e entende que a<br />

linguagem tem função de submeter o sujeito à ideologia dominante (p.<br />

64). Entretanto em Butler não se encontra apenas uma teoria de<br />

produção/constituição/emergência (utilizo estes termos devido às<br />

diferentes correntes epistemológicas utilizadas pela autora ao longo de<br />

sua obra – sempre em entrecruzamento) de um sujeito, mas também uma<br />

teoria de como este sujeito – até aqui visto como eminentemente<br />

psíquico – também aparece na materialidade.<br />

Butler propõe o abandono de noções de construção para um<br />

retorno à noção de matéria, não sendo nem sítio nem superfície, mas<br />

como “um processo de materialização que se estabiliza ao longo do<br />

tempo para produzir um efeito de fronteira, fixidez, e superfície que<br />

chamamos de matéria” (id., 2003, p. 24).<br />

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