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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

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152<br />

Observa-se novamente como a contrariedade do desejo do<br />

sujeito é completamente impossibilitada; passa-se simplesmente uma<br />

nova cena em que seu desejo é imposto sem qualquer possibilidade de<br />

negociação. A sobrevivência da vítima é ressaltada por Quiron como um<br />

fator positivo neste crime: “eu tentei matar ela com uma pedra,<br />

esmaguei o crânio dela, só que ela não morreu, ficou viva. [...]<br />

Encontrava, tava na casa dela. Tava direto na casa dela. Fiz o banheiro<br />

da casa dela, fiz o muro pra ela, mais um canteiro. Mas não morreu,<br />

não, tá bom”.<br />

Esta fala é interessante por demonstrar como o estupro é<br />

pensado por este sujeito, como algo que não é tão grave quanto a morte,<br />

mesmo argumento que Marcus (1992) estabelece como sendo<br />

prevalecente entre as vítimas de estupro, que preferem a sobrevivência<br />

mesmo que o efeito do estupro seja descrito por muitas vítimas como<br />

uma morte em vida (e daí derivam as atuais tendências em chamá-las de<br />

sobreviventes de estupro). E, por ser sobrevivível, não parece que o<br />

sujeito consiga realmente entender que o que se passou tem graves<br />

consequências para a mulher, além de claramente menosprezar os danos<br />

físicos de um esmagamento do crânio e do estrangulamento<br />

subsequente.<br />

Pode-se considerar que a violência, no que concerne a este<br />

sujeito, não passa de um meio de lidar com situações adversas. Mesmo<br />

que em seu discurso apareçam momentos quando fala de culpa ou de<br />

não querer repetir os crimes que cometeu, estas afirmações sempre<br />

aparecem à luz de uma pretensa impossibilidade de controle, a qual o<br />

sujeito atribui ao consumo de drogas, como o crack. Sugiro que<br />

possamos pensar que esta é uma maneira de criar um alheamento do<br />

sujeito em relação às consequências de seus atos, que, ainda que<br />

efetivamente sejam entrecortadas pelo uso de substâncias que provocam<br />

alterações de consciência, não podem ser consideradas desprendidas do<br />

sujeito. Aqui entram em jogo os conceitos das diferentes pulsões<br />

estabelecidas por Freud, visto que os estupros cometidos pelo sujeito<br />

têm como ponto comum o sentimento de posse e o direito sobre o corpo<br />

de outrem. Ademais, Andrade (1992, p. 12) elabora como a relação do<br />

sujeito atravessado por traços de uma perversão se dá com o outro:<br />

No fundo seu desafio situa-se essencialmente no<br />

registro dialético do ser, e tem por alvo a lei do<br />

pai. Ele desafia a lei do pai com tudo o que<br />

significa de falta a simbolizar através da

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