12.05.2013 Views

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

maneira, segundo sua relação com as necessidades<br />

e as exigências da comunidade humana. Deve-se<br />

admitir que todos os impulsos que a sociedade<br />

condena como maus - tomemos como<br />

representativos os egoísticos e cruéis - são de<br />

natureza primitiva (Freud, 1915, p. 317).<br />

Esta passagem é praticamente um prelúdio do pensamento sobre<br />

a pulsão que mais tarde Freud iria desenvolver com mais profundidade,<br />

mas já delimita o pensamento tanto dualista quanto hereditário presente<br />

em Freud, que, desde já, esclarece que algumas tensões advindas de<br />

resquícios “instintuais” estariam presentes nos seres humanos mesmo<br />

quando estes se encontram em uma sociedade civilizada: “assim, o ser<br />

humano está sujeito não só à pressão de seu ambiente cultural imediato,<br />

mas também à influência da história cultural de seus ancestrais” (Freud,<br />

1915, p. 319).<br />

Esta relação fora de fase que se estabelece entre a influência da<br />

história cultural ancestral e a civilização controladora destas pulsões<br />

entendidas por Freud como primitivas é a chave para a compreensão da<br />

neurose, mas também de outros fenômenos da sexualidade. Dentre estes,<br />

acredito que a violência sexual tenha algum traço correlato. Não<br />

pretendo defender uma posição de que o controle social é o que faz com<br />

que tais crimes aconteçam, de maneira alguma, mas problematizar como<br />

o controle social de nossos desejos acaba por criar sujeitos que são<br />

exatamente dispostos a levar esta lei até as últimas consequências,<br />

entender até que ponto a lei realmente tem poder sobre o sujeito. Afinal,<br />

nem todos os sujeitos em uma sociedade, como bem se sabe, são<br />

neuróticos e respeitam as leis. Esta relação com o poder de controle da<br />

sociedade é desenvolvido por Freud no mesmo artigo:<br />

89<br />

Estimulada por esse êxito, a sociedade se permitiu<br />

o engano de tornar maximamente rigoroso o<br />

padrão moral, e assim forçou os seus membros a<br />

um alheamento ainda maior de sua disposição<br />

instintual. Conseqüentemente, eles estão sujeitos a<br />

uma incessante supressão do instinto [pulsão], e a<br />

tensão resultante disso se trai nos mais notáveis<br />

fenômenos de reação e compensação. No domínio<br />

da sexualidade, onde é mais difícil realizar essa<br />

supressão, o resultado se manifesta nos<br />

fenômenos reativos das desordens neuróticas<br />

(Freud, 1915, p. 321).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!