UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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fato de o gênero (não necessariamente a mulher) nem sempre se<br />
constituir de maneira coerente ou consistente em diferentes contextos<br />
históricos e sociais, além de sempre haver o estabelecimento de interrelações<br />
“entre gênero e modalidades raciais, classistas, étnicas, sexuais<br />
e regionais de identidades discursivamente constituídas” (Butler, 2003,<br />
p. 20). Butler argumenta que o discurso de identidade de gênero é<br />
intrínseco às ficções de coerência heterossexual e que o feminismo<br />
precisa aprender a produzir uma legitimidade narrativa para todo um<br />
conjunto de gêneros não coerentes.<br />
Através de Foucault, Butler não pensa a fixidez do corpo como<br />
totalmente material, mas se refere a uma materialidade repensada como<br />
efeito do poder. O “sexo” seria, então, aquilo que torna viável e que<br />
qualifica um corpo para a vida dentro de um domínio cultural de<br />
inteligibilidade: “o sujeito é constituído através da força de exclusão e<br />
abjeção, uma que produz um exterior constitutivo ao sujeito, um exterior<br />
abjeto, que está, afinal, ‘dentro’ do sujeito como seu próprio repúdio<br />
fundante” (Butler, 1993, p. 3).<br />
Aqui aponto novamente como a teorização do registro do<br />
Simbólico pode ajudar-nos a compreender a questão da sociedade e suas<br />
influências sobre o sujeito:<br />
O simbólico faz do homem um animal ("falasser")<br />
fundamentalmente regido, subvertido pela<br />
linguagem, o que determina as formas de seu<br />
vínculo social e principalmente suas escolhas<br />
sexuadas. Fala-se, de preferência, de uma ordem<br />
simbólica, no sentido da psicanálise ter logo<br />
reconhecido sua primazia na instalação, por um<br />
lado, do jogo dos significantes condicionantes do<br />
sintoma e, por outro, como a verdadeira mola do<br />
complexo de Édipo, com suas conseqüências na<br />
vida afetiva; por fim, reconheceu-se seu princípio<br />
como o que organiza, de forma subjacente, as<br />
formas predominantes do imaginário (efeitos de<br />
competição, de prestância, de agressão e de<br />
sedução) (Chemama, 1995, p. 199).<br />
O Real do corpo deve também ser pensado nessas imbricações.<br />
O real é definido como “o impossível, o real é aquilo que não pode ser<br />
simbolizado totalmente na palavra ou na escrita e, por conseqüência, não<br />
cessa de não se escrever” (Chemama, 1995, p. 182), e está<br />
intrinsecamente em relação com o Simbólico, pois, “para que o real não