UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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sujeito por seus desejos (mesmo aqueles inconscientes), o que abre a<br />
possibilidade de que as vítimas de um crime no qual nada de seu desejo<br />
(novamente, mesmo o inconsciente) estava implicado possam ser<br />
erroneamente responsabilizadas. Creio que deixo claro minha posição<br />
contrária a essa leitura que provoca uma revitimização e<br />
responsabilização da vítima de um crime.<br />
Neste sentido, é essencial que se compreenda que existem<br />
diferenciações radicais entre o sadomasoquismo, para o qual existe a<br />
associação entre dor física e dor psíquica ao prazer e a neurose<br />
traumática (também compreendida como aquela a que grande parte da<br />
população tem acesso por ser estruturalmente difundida pela repressão),<br />
sendo que o sujeito é impelido constantemente à repetição de seus<br />
desprazeres. Afinal, são formas diferenciadas de se experimentar<br />
subjetivamente a violência ou de superá-la (Endo, 2005).<br />
A importância da compreensão de Freud sobre o<br />
sadomasoquismo encontra-se precisamente associada ao fato de tê-la<br />
nomeado em suas duas vertentes ao mesmo tempo, pois esta é a<br />
estruturação psíquica encontrada nos sujeitos. Trata-se de uma<br />
copertinência de ambos os impulsos, assegurados pela necessidade de<br />
infligir ao objeto (sendo que este pode ser tanto o próprio sujeito quanto<br />
outro) dor e desta dor obter um prazer específico (Endo, 2005, p. 148).<br />
No que toca ao sadismo, o que constitui o prazer para o sujeito<br />
não é a mera ação agressiva ou violenta em relação a alguém, mas o<br />
prazer intenso experimentado pelo sujeito sádico ao fazer com que outro<br />
sofra, sendo esta a condição única de satisfação (Freud, 1905, p. 143).<br />
Freud, muitas vezes, entre 1905 e 1920 faz uma leitura do<br />
sadomasoquismo como herdada de um instinto animal e utilizada para<br />
os fins do submetimento do parceiro ao coito. Porém, essa compreensão<br />
que Freud utiliza parece ser empobrecedora, ao passo que a redução da<br />
rica vida sexual e erótica humana meramente a uma herança faria com<br />
que apenas a evolução tivesse papel chave para a compreensão destes<br />
fenômenos, enquanto tudo que a psicanálise vem estudando ao longo de<br />
seus anos como prática estabelecida aponta para uma quase radical<br />
prevalência da construção social como fonte das diferentes expressões<br />
eróticas humanas (Endo, 2005, p. 151).<br />
Já em “O mal-estar na cultura”, Freud faz uma tentativa de<br />
ordenação das violências como entrevistas pela psicanálise e postula que<br />
as exteriorizações da pulsão de destruição dirigidas para o exterior e<br />
para o interior do sujeito estão intrincadas com liga erótica (Freud, 1930,<br />
p. 116). Tal afirmação indica uma modificação do entendimento<br />
anterior, que tinha como cunho a pulsão de dominação, a qual, ligada a<br />
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