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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

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140<br />

guria, depois estrupei outra. Estuprei outra. Vim<br />

pará na cadeia.<br />

Neste trecho da entrevista, é possível constatar novamente as<br />

tendências supracitadas. Enquanto os crimes dos quais participava<br />

tinham um reconhecimento social interno ao tráfico de drogas, ou aos<br />

seus pares, Quiron não os considerava “besteiras”. Seu envolvimento<br />

com as drogas e seus posteriores estupros, estes que lhe trouxeram um<br />

ônus econômico e sua privação de liberdade, são, então, reconhecidos<br />

como “besteiras”, categoricamente afastados dos outros crimes pelos<br />

quais não foi punido.<br />

Segato (1999, p. 405) articula o estupro cometido por homens<br />

jovens com uma especial preocupação com os interlocutores, tanto reais<br />

quanto imaginados. Esta estrutura simbólica é o que dá sentido ao ato,<br />

não necessariamente a satisfação sexual ou a violência do estupro em si.<br />

A preocupação principal residiria na demonstração pública de virilidade<br />

e de força. Mesmo o estupro acontecendo em um ambiente privado,<br />

existiria uma relação simbólica com uma alteridade, formando um<br />

sentido que ultrapassa o sujeito isolado e se comunicando em uma rede<br />

de significantes que definem a masculinidade, também na violência<br />

sexual. Segato (1999, p. 408-409) relata que os próprios agressores<br />

sexuais, quando entrevistados em cárcere, costumam dividir a culpa com<br />

um “outro” ou com “algo mais”: “álcool, droga, o diabo, um espírito<br />

que incorporou, um colega ou, até mesmo, em um dos casos,<br />

um‘verdadeiro’ autor do crime, com nome e sobrenome, que, segundo o<br />

prontuário, o réu inventou”.<br />

Esta relação com um outro que serve como motivo (ou fim) do<br />

crime também aparece no caso de Quiron quando perguntado sobre o<br />

primeiro estupro que cometeu e sobre como estava sentindo-se naquele<br />

momento:<br />

Tava pirado, né? Tava usando muito crack na<br />

rua. Tava fumando crack dia e noite. Fumei<br />

minha moto, fumei meu carro. Tava empenhando<br />

meu apartamento com traficante pra fumar de<br />

crack. Ia empenhar ele por meio quilo de crack.<br />

Meio quilo de crack... eu ia ter crack pra fumar<br />

por um bom tempo. [...] Tinha usado crack. Todas<br />

as vez. As três vez que eu fiz isso, eu tava com<br />

crack.

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