12.05.2013 Views

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

188<br />

embora”. O local escolhido para deixar as duas vítimas era isolado,<br />

visando à fuga e à venda rápida do carro roubado das mesmas: “é, num<br />

desvio que tem ali. Bem longe, primeira casa uns... uns 5 , 6 quilômetro.<br />

Achamo que elas iam pedir socorro na hora”.<br />

Durante este abandono das vítimas, ocorre uma situação<br />

interessante: os outros dois homens que estavam no carro de Carlos se<br />

aproximam das vítimas também com a intenção de estuprá-las,<br />

provocando a seguinte reação do sujeito entrevistado:<br />

Os outros só não fizeram porque eu não deixei.<br />

Os outros dois também queriam fazer. Daí, pá, eu<br />

me liguei: “pô, o que que eu fiz?”. Na hora, pá,<br />

eu, depois que acabou tudo. Ainda tava saindo<br />

assim, pô, os outro, assim, queriam fazer, mas eu<br />

não deixei. Não deixei memo. Não, disse: “não<br />

cabei, ninguém vai fazer nada aí”. [...] porque eu<br />

falei pra eles: “não, não, nós não fizemo nada<br />

com elas”. Porque daí eu falei pra eles que os<br />

cara fizeram. Claro, eu não ia saber qual é a<br />

reação deles também. Disse: “não, ninguém fez<br />

nada, ninguém vai fazer nada, deixa as guria aí”.<br />

Aí saímo embora.<br />

Polaschek & Gannon (2004, p. 311) comentam a dificuldade<br />

encontrada entre sujeitos apenados por estupro em falar abertamente<br />

sobre o crime que cometeram, afirmando que<br />

Negação em estupradores é mais complexa que<br />

em pedófilos porque um estuprador tem a opção<br />

de apelar para explicações sócio-culturais que ele<br />

acha que outros entenderão como plausíveis (por<br />

exemplo: “ela disse sim naquele momento mas<br />

depois mudou de idíea, você sabe como mulheres<br />

podem ser”) 25 (tradução minha).<br />

O uso de explicações dadas na cultura realmente é uma maneira<br />

utilizada para escapar à responsabilização, como no caso de Carlos, que<br />

usa um outro sujeito como catalisador do estupro. Além do mais, utiliza<br />

a sua interpretação de que a vítima teria gostado do estupro (ou, no<br />

25 “Denial in rapists is more complex than in child sex offenders because a rapist has the<br />

option of appealing to sociocultural explanations that he thinks others will find plausible<br />

(e.g., ‘she said yes at the time but afterwards she changed her mind, you know how<br />

women can be’)”.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!