UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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embora”. O local escolhido para deixar as duas vítimas era isolado,<br />
visando à fuga e à venda rápida do carro roubado das mesmas: “é, num<br />
desvio que tem ali. Bem longe, primeira casa uns... uns 5 , 6 quilômetro.<br />
Achamo que elas iam pedir socorro na hora”.<br />
Durante este abandono das vítimas, ocorre uma situação<br />
interessante: os outros dois homens que estavam no carro de Carlos se<br />
aproximam das vítimas também com a intenção de estuprá-las,<br />
provocando a seguinte reação do sujeito entrevistado:<br />
Os outros só não fizeram porque eu não deixei.<br />
Os outros dois também queriam fazer. Daí, pá, eu<br />
me liguei: “pô, o que que eu fiz?”. Na hora, pá,<br />
eu, depois que acabou tudo. Ainda tava saindo<br />
assim, pô, os outro, assim, queriam fazer, mas eu<br />
não deixei. Não deixei memo. Não, disse: “não<br />
cabei, ninguém vai fazer nada aí”. [...] porque eu<br />
falei pra eles: “não, não, nós não fizemo nada<br />
com elas”. Porque daí eu falei pra eles que os<br />
cara fizeram. Claro, eu não ia saber qual é a<br />
reação deles também. Disse: “não, ninguém fez<br />
nada, ninguém vai fazer nada, deixa as guria aí”.<br />
Aí saímo embora.<br />
Polaschek & Gannon (2004, p. 311) comentam a dificuldade<br />
encontrada entre sujeitos apenados por estupro em falar abertamente<br />
sobre o crime que cometeram, afirmando que<br />
Negação em estupradores é mais complexa que<br />
em pedófilos porque um estuprador tem a opção<br />
de apelar para explicações sócio-culturais que ele<br />
acha que outros entenderão como plausíveis (por<br />
exemplo: “ela disse sim naquele momento mas<br />
depois mudou de idíea, você sabe como mulheres<br />
podem ser”) 25 (tradução minha).<br />
O uso de explicações dadas na cultura realmente é uma maneira<br />
utilizada para escapar à responsabilização, como no caso de Carlos, que<br />
usa um outro sujeito como catalisador do estupro. Além do mais, utiliza<br />
a sua interpretação de que a vítima teria gostado do estupro (ou, no<br />
25 “Denial in rapists is more complex than in child sex offenders because a rapist has the<br />
option of appealing to sociocultural explanations that he thinks others will find plausible<br />
(e.g., ‘she said yes at the time but afterwards she changed her mind, you know how<br />
women can be’)”.